Arquivos diarios: 16/07/2017

MIRAI A ÓNDE VIÑEN PARAR HOXE

.

Mirai a ónde viñen parar hoxe

A Mondariz

Un día máis en Mondariz Balneario

Canta un moucho

Xa sabedes cómo cantan os mouchos

Dígovos que estou a mirar o ceo

da noite polas fiestras

do Gran Hotel derruído

O ceo que baixa ao chan

pra beixar os fentos

entre as paredes baleiras

Acordeime do moucho

que canta en Lisboa,

no xardín do Centro Galego,

porque a lúa que miro agora,

difuminada, borrosa, esvaída,

derretida, nebulosa, querendo

alongarse e espallarse a cabalo das nubes

parece pedirme que a leve

a onde a miña lembranza queira

Ela, a lúa, sabe tamén

que eu veño de contemplar o río

e que todos os ríos sonoros á noite

semellan unha fervenza negra, solitaria.

 

francisco candeira

VIAGENS CONTINENTAIS (VII)

.

               Hobbes transformou-se naquilo que os franceses chamaram um “conducteur d’un Seigneur”.  Atravessou o mar, levando pela mao o seu pupilo e amigo William, para descobrirem juntos um mundo que até entao só tinham explorado nos livros.  Essa viagem iniciática durou cinco anos.  De todos os lugares que visitaram, Veneza foi a cidade que lhes causou uma impressao mais profunda.  Era o último bastiao republicano na fragmentada Itália pós-renascentista, pois a maioria dos estados tinha sucumbido ao domínio espanhol, depois de França ter sido  derrotada.  Cavendish e Hobbes entraram em contacto com a classe dirigente veneziana, sobretudo com o religioso Paolo Sarpi, membro do Tribunal dos Dez e excelente defensor da república perante o papado.  A luta de resistência face ao papa travava-se também no campo das ideias, sobretudo por manter a autonomia de Veneza em questoes religiosas perante o papa PauloV, muito inclinado para o lado espanhol.  Por esse motivo, os venezianos estavam sinceramente interessados nos ensaios de dois humanistas cujas propostas julgavam poder ajudá-los na sua causa contra a intromissao do pontífice:  um contemporâneo, o inglês Francis Bacon, e o renascentista francês Michel de Montaigne.  Este último, como os cépticos clássicos, promovia o questionamento dos preceitos morais, a suspensao de todas as crenças (epochê) com o objectivo de alcançar a serenidade e a imperturbabilidade (ataráxia) e, como os estoicos e o renascentista Justus Lipsius, a ausência de qualquer tipo de alteraçao de índole emocional (apatheia).  De qualquer modo, Montaigne punha um límite a este tipo de neoestoicismo e isolamento céptico:  “a conservaçao da própria pessoa”, dado que defendia ser obrigaçao do homem sábio manter a sua integridade física, um ponto que se liga também ás ideias do céptico Carnéades.  Hobbes, por seu lado, dará um paso em frente até transformar esse princípio de autoconservaçao em direito natural inalienável, o axioma fundacional sobre o qual baseia uma nova moral. Por outro lado, Bacon, contra o que opinava Montaigne, defendia o envolvimento político dos cidadaos, bem como a aplicaçao práctica das ciências para melhorar a sua vida.

 

ignacio iturralde blanco