THOMAS HOBBES (I)

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               Como abordar a filosofia de Thomas Hobbes?  Como enfrentar a grandeza da sua figura, que uns consideram próprio de um anjo, enquanto uma grande maioria a abomina por ter ajudado a justificar a tirania e o poder mais absolutista?  Qual era a sua verdadeira intençao ao imaginar e descrever um estado pré-social como uma situaçao de guerra sem quartel, na qual os homens transformam a vida num espectáculo vil e hediondo?  Porque pôs tanto empenho em convencer-nos de que o poder soberano, sem límites, é bom por definiçao e de que a nossa obrigaçao é obedecer em tudo ao gigante Leviata, o Estado, acima de todas as coisas?  Talvez seja chocante para o leitor que uma das chaves de muitas dessas perguntas seja a procura da paz e a manutençao da ordem social.  Nao é por acaso que o principal objectivo da filosofia política de Hobbes tenha sido tentar convencer os súbditos sobre as vantagens de obedecer ao soberano, e, assim, evitar a guerra civil que se avizinhava em Inglaterra. Além disso, se nos atrevemos aqui a nomeá-lo como príncipe da paz nao é pela sua coragem, mas exactamente pelo contrário. Como ele próprio nao teve qualquer pudor em reconhecer, a maioria dos actos que empreendeu ao longo da sua vida partiram de um traço do seu carácter muito mais comum que a valentia:  “A grande paixao da minha vida foi o medo”. De facto, esse mesmo sentimento – que considerava forçosamente seu irmao gémeo – constituir-se-ia a pedra angular da sua ciência política, sobre a qual erige toda uma sofisticada teoria da autoridade suprema.  O contexto histórico no qual Hobbes desenvolve a sua actividade política e filosófica, que abordaremos no próximo capítulo, é caracterizado por um choque prolongado entre a aristocracia e a burguesia.  Trata-se de uma época em que se sucederam e amalgamaram grandes conflictos sociais.  políticos e religiosos, tanto no plano interno de Inglaterra como no internacional, naquilo a que podemos chamar o início do fim do “Antigo Regime”.  Apesar de a principal força motriz da sua vida pessoal ter sido o medo, deu mostras de uma grande coragem no que respeita ao seu percurso intelectual e foi um autêntico livre-pensador.  A verdade, tal como a entendia, foi a sua única companheira: “Sou um homem que ama as suas próprias opinioes e crê na veracidade de tudo o que afirma” (Leviata, dedicatória).  E o compromisso, que assumiu com o seu método filosófico e a nova ciência foi inquebrantável e esteve acima de questoes políticas, de modo que decidiu levar o seu sistema filosófico até ás últimas consequências pois acreditava que este estava absolutamente certo e, em sua opiniao, haveria de trazer a paz á humanidade. Nao obstante, as suas convicçoes suscitaram inimizades e estiveram quase a conduzi-lo a um processo por heresia, prova clara de que, no que ao conhecimento se referia, o medo nao o paralisava.  Devido ás suas ideias teve, primeiro, de se exilar em Paris, com medo de represálias dos parlamentaristas, e viu-se mais tarde obrigado a regressar á Inglaterra liderada por Oliver Cromwell, com medo de represálias tanto dos realistas franceses como dos ingleses exilados em Paris.

IGNACIO ITURRALDE BLANCO

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