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A ressaca repressiva de 68 foi enorme. A revolta acabava de ser sufocada quando, a 12 de Junho, se proibiram grande parte das organizacions esquerdistas que a tinham protagonizado. Sartre envolve-se na defesa dos militantes presos. A sua actividade é frenética. No entanto, a sua saúde começa a deteriorar-se com gravidade e, por outro lado, os estragos da cegueira progressiva tornam-se inevitáveis. Entre as múltiplas intervençoes que levará a cabo, entre as dezenas de entrevistas que concede, existe uma serie de conversas que quero referir porque reflectem a fase final do pensamento sartriano. Desenvolvem-se entre novembro de 1972 e março de 1974 e serao publicadas com o título de “Porqué a Revolta?” Os seus interlocutores sao Victor e Gavi. Quem sao estas personagens ás quais Sartre concede tal confiança, que se permitem discutir e contrariá-lo, matizar as suas afirmaçoes? O primeiro, que se tornará cecretário particular de Sartre no período 1974 – 1980, é um emigrante do Cairo, alumno de Althusser, militante maoista na Esquerda Proletária, que derivará, quando se converte ao judaísmo, para um estranho horizonte a que gostava de se referir como síntese Mao-Moisés, e que estabelecido em Jerusalém, dirigirá o Instituto de Estudos Levinasianos. Por seu lado, Gavi é de filiaçao trotskista e um dos fundadores do jornal “Libération”. Com eles, Sartre manterá uma discussao em longas sessoes: é o último testemunho teórico da sua aventura filosófica.
j. l. rodriguez garcia
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