BREVE EPÍLOGO SOBRE A CONFERÊNCIA DE OUTUBRO DE 1945 (XIII)

.

.

               Eis um Sartre na defensiva. Para responder ás críticas, organizará uma conferência que tem lugar no final de outubro de 1945, coincidindo com o aparecimento de “Les temps modernes”.  Trata-se na verdade do que poderiamos chamar um “acontecimento social” a sala do Club Maintenant, em Paris, está a abarrotar.  O público é tao numeroso que Sartre teve de fazer sessoes posteriormente para esclarecer problemas e responder ás críticas.  Estas tinham sido apontadas no seu conjunto á trama moral sartriana: se ficara estabelecido que nao podem existir duas situaçoes semelhantes, há apenas uma possibilidade muito remota de estarmos de acordo na escolha de um possível idêntico, e neste caso o “para-si” devia esforçar-se por renegar esse possível comum,  que menospreza a sua irredutibilidade, a sua subjectividade original.  A afirmaçao da impossibilidade do comunitário recebe críticas dos teóricos comunistas, que qcham que Sartre se vanagloria de uma concepçao da espécie humana em que predominam os aspectos sórdidos, confusos, nao tendo em conta os destaques belos da existència – por exemplo, a evidência do espírito solidário -, e também dos cristaos, que o censuram por nao ter ligado á ideia de uma transcendência que englobaria forças e representaçoes colectivas.  Todos denunciam o individualismo sartriano.  Sartre responderia ás críticas centrando-se especialmente na rejeiçao fundamental.  Individualismo?  Sem dúvida, a leitura do tratado de 1943 e da literatura sartriana nesta altura parece levar-nos a tal conclusao.  Mas Sartre vai surpreender-nos porque escreve que, “quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, nao queremos dizer que o homem é responsável pela sua estricta individualidade, mas sim que é responsável por todos os homens”.  A surpresa é enorme:  onde havia desencontro ontológico-ético há agora uma corresponsabilidade que entende o fervor da questao comunitária.  Mais á frente, Sartre referir-se-á a “uma universalidade humana de condiçao”.  A negaçao absoluta do que se tem defendido filosófica e literariamente.  Como é possível esta viragem tao pronunciada? Achamos que se fica a dever a uma razao á qual dedicaremos o proximo capítulo;  Sartre iniciou a sua aproximaçao á política, que requer o compromisso e a solidariedade, e consequentemente deve aceitar a suspeita de uma situaçao comum – talvez nao universal, mas que vai para além do individual -, e, portanto, de um projecto-possível  comunitário. Dá-se início a uma nova aventura.

 

J. L. RODRIGUEZ GARCIA

Deixar un comentario