Arquivos diarios: 01/06/2017

O INFERNO DA EXISTÊNCIA (XI)

.

    A DESCOBERTA DO PERIGO DE EXISTIR

              Sartre conhece a experiência de Nizan, admite que a Guerra Civil Espanhola o deixou abalado e confessa várias veces que a sua vivência da Segunda Guerra Mundial mudou a sua vida.  Por tudo isso é realmente estranho que construa uma obra caracterizada, como veremos de imediato, pela indicaçao das extremas dificuldades em culminar um processo pessoal de intervençao que se ajuste ao mundo em que vive e, sobre tudo, que se mostre avesso a aceitar a proximidade do outro para elaborar uma tarefa comum solidária.  É verdade que a trilogia de “Os Caminhos da Liberdade” – na verdade uma tetralogia se tivermos em conta que Sartre já tinha practicamente acabado um quarto volume, que aparecerá em “Les Temps modernes” – parece orientar-se para outra perspectiva, a do compromisso e a do encontro positivo com o outro, mas esta mesma circunstância dá lugar á perplexidade.  Este capítulo centra-se em três obras literárias que justificam de maneira evidente o surgimento sartriano no mundo cultural françês e internacional a partir das perspectivas literárias e filosóficas.  Refiro-me a “A Náusea”, romance que, embora tenha sido publicado em 1938, começou a ser escrito durante a estada do autor em Berlim, em 1933.  “As Moscas”, estreada em Paris no início de junho de 1943; e a “A Porta Fechada”, conhecida pelo público no final de maio de 1944.  As datas sao reveladoras: o romance é publicado quando Sartre já tem conhecimento da experiência niziana e sofreu o abalo provocado pelo levantamento fascista do general Franco em Espanha.  Nas três obras referidas encontra-se uma consideraçao sombria e infernal da existência humana, descreve-se o mundo no qual o homem, esforçando-se por compreender, conclui que todo o esforço está destinado ao fracasso e á ruína.  “Já nao posso falar, inclino a cabeça.  O rosto do Autodidacta está colado ao meu. Sorri com ar fáctuo, muito perto da minha cara, como nos pesadelos. Mastigo penosamente um bocado de pao que nao me decido a engolir.  Os homens sao admiráveis. Tenho vontade de vomitar, e de repente alí está: a náusea.”

 

J. L. RODRIGUEZ GARCIA

DI QUE SI, QUE A VIDA É BELA

.

Di que si, que a vida é bela,

anque demasiado vella

e encarcerada pra calquera,

mais di que si porque pensas

anque non saibas o que digas

anque digas sen pensar

que tés xeito

e podes chegar a ser poeta

se es fino e aprendes

a intelixencia da Cleopatra

de Bernard Schaw:

a súa sintaxe, o seu efecto sorpresa,

o seu truncar a frase e o sentido

maxistralmente: a reviravolta

sen darte conta, con inocencia,

con frescura infantil, case inconscientemente.

Sabe máis ela de poesía

que todos os poetas coma min xuntos.

Di que si, que a vida é bela,

que podes disfrutar lendo a Cleopatra,

que a poesía non é retórica,

nin tontería, nin aburrimento,

nin estúpidas prisións

de verdades, bondades ou Estados ignorantes.

A poesía é a grande virtude,

xunto coa Bondade Sabia (ou Milagre)

a única virtude.

 

FRANCISCO CANDEIRA