Arquivos mensuais: Maio 2017

NO MEU BARRIO HAI UN PASEO

.

moi importante, moi solitário,

e un edificio que están a derrubar.

No paseo nace unha herba

moi verde entre os paralelopípedos

de pedra e entre as pedriñas:

pasa moi pouquiña xente, case ninguén.

En frente, percorrido

polo silencio de gatos noctámbulos,

hai outro paseo

limitado por un gran muro branco

entre dúas antigas farolas de rúa.

Na parte superior deste muro, na terra,

nace e trepa unha enredadeira

que avanta cara abaixo e cara arriba,

enorme, a través dunha rede alta.

Esta trepadeira con flores violetas

entra polos meus soños adentro

levándome ás rexións da miña infancia,

cando eu xogaba cunha trepadeira.

Agora, á noite, trepa tamén a miña infancia.

 

francisco candeira

JEAN-PAUL SARTRE (II)

.

               Breve reconstruçao do contexto social e histórico que alimentou o pensamento sartriano recordando a situaçao filosófica em relaçao á qual se posicionou.  Para isso, temos de recuar ao coraçao do século XIX, esse momento em que o horizonte filosófico está enquadrado por Hegel, ou seja, pela força do pensamento dialéctico, essa consideraçao do real que entendia os jogos sociais como confrontos que, por fim, se resolveriam num momento esplendoroso, no previsível fim da história.  Nao é apenas Hegel que se espraia nesse pensamento central.  Disse já que a força do pensamento dialéctico é a marca fundamental do século XIX, e de facto, com as variaçoes que tentam juntar autores como Marx ou Bakunin, o núcleo da dialéctica permanece, como se estas variaçoes fossem secundárias.  Contudo a aventura hegeliana começou a ser considerada pelas autoridades conservadoras como um adversário que convinha importunar.  A operaçao de ataque tornou-se explícita em 1841, quando Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling, que fora condiscípulo de Hegel, com quem partilhara quarto durante o período em que os dois estudaram em Tubingen, foi chamado por Frederico IV da Prússia á Universidade de Berlim, alguns anos depois da morte do seu velho amigo, para tentar “extirpar as sementes do dragao hegeliano”.  O monarca sabia que essas sementes tinham começado a florescer na consciência e na práxis do que conhecemos como esquerda hegeliana, esse grupo de jovens estudiosos que tentavam orientar a dialéctica para uma utilizaçao política e subversiva.  Tratar-se-ia  de uma oportunidade tardia, surgida apenas quando as autoridades se deram conta da “perversao da dialéctica”?  A dialéctica seria considerada um perigoso inimigo em 1841?  Anteriormente, teria sido um saber inocente e neutro, suportável?  Nao me parece que se possa aceitar essa ideia se tivermos em conta a conhecida animosidade e a antipatia que lhe era professada por Schopenhauer, concorrente de Hegel enquanto docente, ferozmente antidialéctico, e que, durante a vida do afamado filósofo, clamou continuamente contra os “disparates” hegelianos e a sua “salgalhada verborreica”.  A verdade é que se fora organizando uma frente anti-hegeliana que, por outro lado, nao se apresentava como tal:  tratava-se antes de apariçoes dotadas de maior ou menor fragilidade, mas que se foram propagando nas entranhas do ofício filosófico.  Foi nesse espírito que apareceu Kierkegaard, que se deslocou a Berlim para estudar filosofia e se declarou partidário fervoroso da subjectividade diferenciada.  Toda esta agitaçao filosófica daria lugar á filosofia nietzschiana.  Para captar o seu espírito bastará a alusao a “Acerca da Verdade e da Mentira no Sentido Extramoral”, ensaio no qual Nietzsche, perguntando-se o que é a verdade, afirma que é “uma multidao móvel de metáforas, metonímias e antropomorfismos”, um conjunto de ilusoes “que esqueceram o que sao”.  Como se pode perceber, a revogaçao da filosofia como saber rigoroso é absoluta e o filósofo converteu-se num literato, no sentido mais comum da designaçao-, apesar de nao se apresentar como tal, mas investido da aureóla da respeitabilidade que lhe é concedida por exercer um ofício orientado para a descoberta da natureza das coisas, do homem e da sociedade.

 

J. L. RODRIGUEZ GARCIA

CANDO CAI UNHA FOLLA

.

sobre outras follas caídas,

.num recinto asfaltado,

ou entre outras follas deitadas, irmáns,

xorde un silencio sublime, e un ermo.

Chega a folla ao pavimento

e, en silencio, descansa e morre.

Ou non morre, quizais non morre.

Quen morre, por un intre, é o ar.

A morte azul do ar sucede

mentres se desprende a folla e decide cair.

A morte azul do ar é un intre brevísimo,

é un paréntese de eternidade

(a folla imaxinariamente ábrese

en dous semi-ovoides

e cai no silencio).

E quen atinxiu o silencio

e a invisibilidade xa pode

adormecer sen dor,

como esta folla que cai ou caíu

ou como as outras follas xa caídas,

que aínda que mecidas polo vento

ou pisadas distraídamente por alguén,

xa non senten dor,

ou senten unicamente a dor

da súa unida e necesaria indiferencia.

 

FRANCISCO CANDEIRA

JEAN-PAUL SARTRE (I)

.

               Assim, juntamente com o que pode chamar-se retórica filosófica, há o facto de o pensamento de Sartre ter tido repercussao precisamente nessa faixa etária a quem interessa a literatura e a filosofia, que o acompanhará tanto na sua etapa existencialista como, posteriormente, quando se aproxima do marxismo como uma actitude crítica.  Para compreender a magnitude da obra filosófica e literária de Sartre devemos perguntar-nos como é possível que, desde os anos 30, quando entrou em cena, até á década de 70, quando a cegueira e outros achaques começaram a perturbá-lo, a sua presença tenha sido requerida constantemente por uns e outros, e a sua voz sempre considerada como a de alguém que tinha alguma coisa a dizer. A importância filosófica de Sartre está, por isso, em ter-se convertido numa testemunha privilegiada dos acontecimentos que marcaram o século XX.  E “testemunha privilegiada” nao significa literalmente que tenha participado com empenho em todos eles, mas que reconheceu a sua importância para os valorizar e o fez de uma perspectiva filosófica, que se reflectiria nas obras mais importantes que publicou, mas também nas suas inúmeras entrevistas e apariçoes públicas. (…) Convém saber a que circunstâncias permaneceu atento para as abordar numa perspectiva filosófica: em primeiro lugar, a situaçao da filosofia que Sartre encontrou na sua juventude;  em segundo, as sequelas da Primeira Guerra Mundial; em terceiro, os efeitos da Revoluçao Russa.

 

J. L. RODRIGUEZ GARCIA

 

ESTAS FOLLAS ASENTADAS, SERENAS,

.

dispostas no chan con azarosa placidez, xuntas,

se un bris as fai vibrar, saberán arrastrar

os homes cara a un sitio incerto, máxico, levemente.

Levarán o mundo cara a Ningures,

alí onde os cetros e as espadas, vigorosas,

sen misericordia aniquilarán á Morte.

Depois renacerá alborozadamente a Vida

chea de sons, herbas, estanques estrelados e levidade intensa.

 

francisco candeira

ERASMI ROTERODAMI

.

                   O LUGAR DAS IDEIAS

               O Erasmo de carne e osso, marcado pelas dificuldades que teve de enfrentar desde o berço, pelos seus problemas de saúde, pelo risco de cair na pobreza e pela sombra contínua de ver-se obrigado a regressar a Steyn, vai dando lugar ao Erasmo de papel, um homem que, á força de perseverar, consegue transformar-se no erúdicto mais reconhecido de toda a Europa numa época de gigantes da erudiçao.  Duas décadas prodigiosas, 1511 – 1531, vê-lo-ao moldar-se e modelar um mercado editorial que recebe o que publica com uma voracidade inaudicta, só superada por Lutero.  Tudo o que Erasmo escreve é um éxito comercial quase antes de a tinta começar a secar sobre o papel e o ritmo de produçao, revisoes e reediçoes de cada uma das suas obras vai requerer uma infraestructura editorial que possa dar um impulso á procura e que lhe ofereça uma plataforma eficiente a partir da qual enfrentar o maior dos seus males e, talvez, o mais inesperado: a sua fama e as polémicas que traz associadas numa das épocas mais convulsas da história da Europa.  Johann Froben (1460 – 1527), o editor escolhido para esta difícil tarefa, já tinha feito nome no mercado livreiro europeo dos princípios do século XVI pela beleza e cuidado com que imprimia cada um dos seus títulos.  A partir de 1514, os destinos literários de ambos os homens estarao a tal ponto ligados, que Erasmo acabará por instalar-se em Basileia para poder escrever, supervisionar a composiçao e rever os ariginais ao ritmo que o mercado, o seu projecto intelectual e, paulatinamente, as circunstâncias lho exigem.  Froben e Erasmo, e o círculo que se forma á volta de ambos,  serao os responsáveis por converter Basileia numa das capitais do humanismo europeu e, (…)  Da sua popularidade, da sua productividade, da sua tendência para a revisao e para a ampliaçao continua das suas obras e, porque nao dizê-lo, do seu estatuto como fetiche literário, fala o pedido que Johann von Botzheim (1535) dirige a Erasmo em 1522:  gostaria que lhe indicasse as melhores ediçoes de cada uma das suas obras para poder incorporá-las á sua já magnífica biblioteca.  Em janeiro de 1523, Erasmo remete-lhe uma extensa carta onde se encontra um catálogo organizado e comentado de toda a sua produçao.  Johann Froben, sempre atento ás possibilidades de negócio, imprimirá uma versao ampliada e actualizada em 1524 e o seu filho e herdeiro, Hieronymus (1501 – 1563), outras duas: a primeira um ano depois da morte de Erasmo (1537) e a última e definitiva é incluída no material introductório da ediçao de Basileia das Obras Completas (1540).  No Catálogo, Erasmo divide as suas obras em nove grupos distintos:  as obras filológicas e humanísticas, os Adágios – que deveriam entrar na categoria anterior, mas que pelo seu volume e entidade firmam uma categoria própria-; a correspondência, os tratados educativos, as obras de carácter piedoso, a ediçao anotada e traduçao do Novo Testamento, as Paráfrases ao Novo Testamento, os textos de carácter polémico e apologético e uma selecçao de ediçoes e traduçoes dos padres da Igreja.  É importante referir, para o leitor atento, que Erasmo destribui as sua obras por áreas temáticas, além de estas seguirem “grosso modo” uma ordem temporal estreitamente vinculada á sua biografia.  Por outro lado, a divisao da sua obra por âmbitos de interesse pode dar a impressao – correcta em geral – de que Erasmo nao era um pensador sistemático de acordo com os cânones actuais, mas há que acrescentar que para um leitor medieval ou renascentista a visao de conjunto oferece uma estructura coerente:  a progressao a partir da humilde gramática, ponto de partida e assistente de todas as disciplinas do saber, até ao cume para o qual todas elas preparam e a que todo o conhecimento se deve dirigir, isto é, a teologia.  Assim, os dois últimos blocos constituem na verdade uma espécie de apêndices ao pensamento de Erasmo,  onde as polémicas mantidas com os seus numerosos críticos durante as duas últimas décadas da sua vida vao lado a lado com a cultura dos padres da Igreja, que servem como autoridade indiscutível e luz sob a qual estas devem ser lidas.

 

JORGE LEDO

 

ASÍ BEIXO ESTA CASA VELLA

.

presidida, fóra, por un cácano (os froitos

son moi doces e da cor das laranxas).

Beixo as paredes deste pardiñeiro

con tellas novas

querendo rubir como ascende

unha avelaíña de luz ou unha barata

só disposta a procurar no escuro.

Beixo estas paredes (esta única parede perdida)

e non beixo unha sombra

nin a ausencia dunha sombra

(non podo beixar as sombras

das persoas que coñezo:

a miña avoa, que recitaba versos

de Rosalía

-nunca saberei por qué non souben bicala

cando me acenou o último adeus-,

o meu bisavó que no retrato

usa barba sen bigode)

Debo de estar a beixar unha presenza oculta

do tempo: a pura ausencia

da ausencia de sombras.

Debo de estar a beixar un carreiriño de terra

feito destraidamente no interior desta estancia

tal como un neno modela para un belén

un riacho con papel de prata.

Creo que estou a beixar esta parede

(estas paredes recuperadas)

e creo que estou beixando un exército

desarmado de sombras,

ou desarmado e armado de sombras:

isto é, non estou soñando,

estou a beixar un exército de nubes,

chorando, e case non me avergoño

de estar chorando

porque estou beixando

unha nube,

ou unha nube gris

e unha patria branca, moi branca, branquísima.

 

FRANCISCO CANDEIRA

ERASMI ROTERODAMI

.

                        POR FIM, ITÁLIA

               Na primavera de 1506, o genovês Giovanni Battista Boerio, médico pessoal de Henrique VII de Inglaterra, consulta Erasmo sobre a sua disponibilidade para ser preceptor dos seus filhos, Giovanni e Bernardo, durante os estudos que estao prestes a empreender na Universidade de Bolonha.  A sua tarefa, neste caso, parece puramente testemunhal, dado que os rapazes já contam com um tutor a seu cargo,  Clyfton, que Erasmo unicamente terá de supervisionar, servindo-lhe de apoio durante o seu primeiro ano em Bolonha.  Assim, como um cargo pouco exigente que lhe permite dedicar-se aos seus estudos, por fim estarao reunidas as condiçoes favoráveis que lhe permitirao realizar, perto dos 40 anos, o sonho de toda a sua vida: visitar Itália.  Mas antes de a tipografia de Bade começar a trabalhar para Erasmo, este reúne-se a 8 ou 10 de agosto nos arredores de Paris com os seus pupilos, com Clyfton e um grupo de criados.  Daí partem em direcçao a Turim. (…)  Erasmo olha para trás para contemplar o longo caminho que tivera de percorrer para adquirir uma formaçao que em caso algum dá por terminada.  A primeira paragem do grupo é Turim, cidade cujas gentes Erasmo destaca a afabilidade, e cujo “Studium generale”  lhe concederá o doutoramento em teologia a 4 de setembro.   …O grupo continua a sua marcha rumo a Bolonha fazendo uma paragem em Milao, onde Erasmo tem a oportunidade de ver  “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci.  Quando por fim chegam a Bolonha, constatam que a cidade está prestes a sofrer um cerco, o que os obriga a dirigirem-se a Florencia.  O papa Júlio II, á cabeça do seu próprio exército e em aliança com os franceses, assedia Bolonha e derrota os Bentivoglio rapidamente, Erasmo terá a oportunidade de observar, entre a incredulidade e a indignaçao, a entrada triunfal do papa em Bolonha a 11 de novembro de 1506,(…)      nao sem antes ter aproveitado o tempo em Florença Erasmo, para traduzir alguns novos diálogos de Luciano…  “Neste momento os estudos estao parados em Itália, enquanto as guerras prosperam.  O Papa Júlio está a chamar para a guerra, conquistando e encabeçando marchas triunfais; de facto, está a tornar-se num Júlio (César) em vida.”  (…) quem deveria evitar que os cristaos se matassem entre sí e exercer como lider espiritual da Europa, em vez de ser mais um senhor feudal.  A sua adversao face a Júlio II ainda se verá exacerbada quando tiver a oportunidade de ver em primeira mao Roma e conhecer membros do cardinalato e da cúria papal. (…)  Entre a decepçao desponta uma luz:  Paolo Bombace (Paulus Bombasius, 1476 – 1527, um jovem professor de poética e retórica que está quase a receber uma cátedra de grego na universidade.  Bombace oferece-se para ajudá-lo nos seus estudos e devido á afinidade intelectual que surge entre ambos, (…) Em 1533, seis anos depois do falecimento de Bombace e três antes do seu, Erasmo recordá-lo-á com grande carinho e retratá-lo-á como uma das mentes mais puras que teve ocasiao de encontrar. (…)  Em 1507, com a chegada do outono, Erasmo vê-se por fim eximido das suas obrigaçoes como supervisor de Clyfton e tutor dos irmaos Boerio, o que lhe permite movimentar-se á vontade pela península.  A 28 de outubro escreve uma carta a Aldo Manuzio (c. 1449 – 1515), o maior editor de Itália e o pai do livro moderno, ó que faz acompanhar das suas traduçoes latinas da Efigénia e da Hécuba de Eurípides (…)  Erasmo remete-lhe as correcçoes do texto e decide mudar-se para Veneza.  Um mês depois, o seu Eurípides aparece reimpresso e livre das numerosas erratas da primeira impressao a cargo de Josse Bade.  As normas entre os muros da “Academia aldina” eram estrictas. Todos os residentes deviam comunicar-se unicamente em grego, e qualquer erro no idioma, ou a mudança intencionada ou inconsciente para o vulgar, era sancionada com uma multa. (…) Ó paraíso do conhecimento une-se a muito menos idílica pintura da vida naquelas paragens, que Erasmo retrata no seu colóquio “Opulentia Sordida” (1531):  sujidade e ar viciado pela utilizaçao de aquecedores, abundância de pulgas nas camas, comida rançosa e mal cozinhada, pior vinho e separaçao estricta de homens e mulheres. (…) A publicaçao da obra representa o fim da sua estada veneziana.  No início de novembro de 1508, Erasmo muda-se para Pádua para se transformar em tutor de Alexandre Stewar (1493 – 1513), filho bastardo de Jaime IV da Escócia (1473 – 1513), e do seu irmao Jaime.  Um mês depois vê-se forçado a abandonar Pádua com medo de uma guerra iminente; o destino agora é Ferrara, e depois virao Siena, Roma – onde a fama dos “Chiliades” o precede e recusará numerosas ofertas para estabelecer-se na cidade -, Nápoles e, de novo, Bolonha, para partir rumo a Inglaterra encorajado pela prometedora ascensao ao trono de Henrique VIII.

 

jorge ledo

A MORTE NON EXISTE.

.

A morte puidera non existir.

A morte existe porque existe

o Poder

o Diñeiro

o Sistema

a Economía

o Estado

o Capital

o Idioma

a Patria

a Escola

a Universidade

a Familia

a Historia

a Relixión

e outras cousas máis polo estilo

(e con esta enumerazón

non quero ofender a ninguén – !Coidado! !Quede claro!)

 

Mais a morte podia ser cousa distinta, podia non existir…

ou melhor: podía existir doutra maneira.

O morrer inesperado sería moi doloroso, non tráxico.

E quen vai morrendo preso ás mans dos amados – máis que vellísimo –

sentiría tristura e pena, e dolor pura, non dolor tráxica.

 

Mais a morte, se non existise, é un traspaso

dunha nube pequeniña a outra nube diminuta

que, entrechocando, acenden un sol humano (divino):

acéndese un sol visíbel (pequeniño e grande) e non se deixa

nada: vai crecendo a irmandade, a igualdade, a fraternidade

e a sabeduría.  Deixamos moito, todo: alegría.

Abandonamos a liberdade con pena (comprensón) – non con dolor.

A nosa desaparizón sería celebrada

no cume dun monte, vestidos os irmáns con togas frouxas, negras,

co rostro oculto (cuberto), e só se vería un círculo inmenso

de mans, entrelazados os dedos, baixo unha noite de luar intenso:

e as mans todas brillando como nunca.  E en silencio

unha coruxa de catro rostros diante.

E todos saberían que mañá danzarían xuntos,

traballando e rindo, batallando, baixo un sol bo e poderoso.

 

FRANCISCO CANDEIRA

ERASMI ROTERODAMI

.

                     ESTUDOS EM PARÍS

               Graças a uma carta de recomendaçao de Van Bergen, dos cerca de quarenta colégios – centros onde muitos dos estudantes residiam e estudavam – que no final do século XV dependiam da Universidade de París, Erasmo ingressou no Collége de Montaigu.  O centro tinha sido fundado em 1314 por Gilles Aycelin de Montaigu (1252 – 1318), bispo de Rouen, e diversas razoes o tinham levado ao estado practicamente ruinoso em que Jan van Standonck (1453 – 1504) o encontrou quando se tornou no seu reitor em 1483, Van Standonck tinha sido educado pelos Irmaos da Vida Comum em Gouda e tinha-se douctorado em teologia pouco tempo depois.  Ele e Van Bergen conheciam-se porque aquele o tinha ajudado a levantar várias escolas em Malines e em Cambrai, antes de se mudar novamente, para París.  Van Standonck era um homem severo, austero e com uma tenacidade admirável, e era também um homem sem medo, Erasmo recordará que em 1499 tivera coragem para sugerir a falta de ponderaçao de Luis XII (1462 – 1515) quando o monarca quis levar para a frente o seu divórcio, mesmo que isso lhe custasse o seu exílio de França:  A regra pela qual se regia Montaigu dependia directamente dos estatutos dos Irmaos da Vida Comum, mas era particularmente severa em aspectos da vida monástica e do ascetismo medievais,  Assim, desde a sua entrada submetiam-se os estudantes a um estado de jejum practicamente perpéctuo, com uma dieta mínima que consistia num copo de vinho avinagrado reduzido com água,  farinha de arenque e ovos habitualmente podres.  Todos os alunos deviam estar de pé ás quatro da manha, mas nao era raro obriga-los a levantar-se á meia-noite para orar, açoitá-los por qualquer infraçao insignificante ou encorajá-los a denunciarem os seus companheiros se detectavam algum comportamento fora da norma.  A recordaçao de Erasmo três décadas depois no seu colóquio  “Ixtiofagia ou comer peixe” (1526) nao é muito mais amável:  O colégio era regido por Jan van Standonck, um homem cujas intençoes estavam, longe de qualquer censura, mas que teria encontrado totalmente carentes de bom juízo (…)   Num ano tinha conseguido matar muitos estudantes muito capazes, dotados e prometedores, e a outros, conhecidos por mim, reduziu-os á cegueira, a ataques de nervos ou contagiou-os com lepra.  Nao havia nem um único estudante que nao estivesse em perigo.  Após um ano académico, que posteriormente denominará “escola do vinagre”,  Erasmo, encontra-se doente e consideravelmente debilitado pelas condiçoes de vida em Montaigu.  Decide mudar-se no início do verao para casa de Van Bergen de modo a poder recuperar, embora durante toda a sua vida atribua os seus problemas de saúde ao seu primeiro ano de estada em París.  No final do verao, decide nao repetir a experiência e alojar-se com os seus próprios recursos numa pensao, com a resoluçao de que nada, e muito menos o regime de vida, interferisse nos seus estudos.

JORGE LEDO  

SOBRE UN EDIFICIO ALTO, DEGRADADO,

.

acumúlanse as pombas

entre as bufardas.

Máis arriba, na torre da igrexa,

a campá balancea e toca.

Unha pomba, ou tres ou catro,

ensaian, namentres, un efémero voo.

Voltan a pousar. Outras pombas

se elevan de novo.

(De todo provén a sustancia

do irreal).

A música, que non os toques,

abrangue todo:

é de todas as pombas,

ou de ninguén, nin do poeta,

ou quizais unicamente, neste poema,

do edificio baleiro

e da árbore á retaguardia,

que, contida, só ás veces

se move, trémula, pracenteira, suave

e para min lonxana, tan lonxana

como o edificio baleiro,

misteriosamente ocupado por

unha franxa de sol

e unha faixa de sombra.

 

FRANCISCO CANDEIRA

ERASMI ROTERODAMI

.

               Durante o século XIV, as províncias de Frísia e de Groninga, juntamente com a cidade de Deventer, foram os territórios dos Países Baixos mais assolados pela peste negra, com registros que remontan a 1350 e 1351.  De todos os surtos, talvez o mais severo para a ordem dos Irmaos da Vida Comum tenha sido o que decorreu no verao de 1398, ao ponto de muitos dos seus membros, furtando-se aos seus deveres de cuidado a doentes e necessitados, um dos preceitos fundamentais da ordem, abandonarem a cidade para evitar o contágio.  O século XV foi, se isso fosse ainda possível, pior em Deventer.  Os surtos continuaram e em certas ocasioes foram até mais virulentos.  Os anos de 1483 e 1484 foram especialmente difíceis. Basta recorrer aos testemunhos da época para ter uma ideia da intensidade do surto desses dois anos.  Em 1483, dois amigos, ambos contagiados pela epidemia, tentaram encontrar um magistrado em Deventer para se tornarem mutuamente testamentários em caso de falecimento.  Foi em vao.  Todos os funcionários e cargos oficiais tinham abandonado a cidade com medo de contrair a doença.  Em 1484, ano que marcaria definitivamente o destino de Erasmo, o golpe da peste foi tao violento em Deventer, que de um grupo de vinte e cinco estudantes de Sao Lebuíno só sobreviveram cinco,  As aulas, é evidente, foram suspensas e os estudantes que estavam hospedados na residência dos Irmaos da Vida Comum, abandonam-na; no caso de Pieter e Erasmo, aquando do seu regresso a casa encontram a sua mae a agonizar.  Sozinhos numa cidade assolada pela peste, percorreram os 113 quilómetros que separam Deventer de Gouda para se refugiarem na casa paterna.  Ao chegarem lá, descobrem que o seu pai também tinha contraído a doença e que, pouco tempo depois, morreria…    para prosseguirem os seus estudos, ficariam alojados na “domus pauperum scolarium (casa dos estudantes pobres) dos Irmaos da Vida Comum.  Naquela que é conhecida como carta a Grunnius, redigida por Erasmos em 1516 – mas só publicada na sua colecçao epistolar (Opus Epistolarum) de 1529 – recordará este período num tom sombrio que já se torna familiar:  “Se os irmaos, veem um rapaz cuja inteligência é mais elevada e activa do que é habitual – como costuma ser o caso dos rapazes dotados e capazes -, a sua meta é quebrar-lhe o espírito e submetê-lo a castigos corporais, ameaças, recriminaçoes e várias outras artimanhas – discipliná-lo, chamam-lhe eles , até o fazerem encaixar na vida monástica.  Por isso sao tao populares entre os dominicanos e os franciscanos, que afirman que as suas ordens ficariam sem monges se nao fosssem os jovens que os irmaos lhes disciplinam.  Uma “educaçao” de tal calibre, baseada no medo e no doutrinamento, opunha-se diametralmente ao que tinha, atraído Erasmo para o estudo, isto é, o carácter libertador que reside em toda a cultura, na possibilidade de acceder á grandeza da antiguidade clássica através das suas obras mais elevadas – aquilo que ele denomina como “os melhores autores”-,  e a oportunidade de ver o mundo através da lente que estas concedem e, ao imitá-las alcançar uma voz própria merecedora dessa mesma grandeza.  Deste ponto de vista, o mosteiro era para ele pouco mais do que uma fábrica de embrutecimento.

 

JORGE LEDO

 

O REMOL PRENDE NO PAVÍO

.

dun chisqueiro antigo, Vin antes as faíscas

e a man en acción, aberta, firme.  Un pito

acéndese como renace un rito

remoto, total, mítico.

Do fondo da estancia chega o xesto

dun rostro escuro, anónimo,

non discirno os seus rasgos,

unánime como a luz fatigada

da estancia.

Procedo a irme, digo até á mañá

e nestas precisas e afeitas palabras

xa presinto as luces da noite

na rúa, as sombras movedizas,

a soidade do meu cuarto, un fume

perseguido con poutas,

e probabelmente aquilo que máis

sospeitosamente olvido:

o Barco dos Loucos a discorrer fantástico

no mar do mencer.

E presinto estas cousas porque aquelas faíscas

primeiras na sala nocturna e indecisa

xa anunciaban de golpe o mencer, por un intre

lumeira que renace día tras día

porque á noite atingue

verbas de liberdade, seiva ardente.

FRANCISCO CANDEIRA

 

O GALITO

.

                    Tranquilidade, boa mesa, e unha das melhores cozinhas de Lisboa e arredores.   Ainda que fica nos arrabaldes da cidade, é um dos meus restaurantes mais queridos.   Fica em Carnide, e é um dos grandes embaixadores da cozinha dos “terratenentes do Alentejo”, sendo o seu prato bandeira o cozido de gran com enchidos e carnes.   Há sempre vários entrantes tradicionais da rexión do sul do Texo, e atesoura tamém unha boa garrafeira, para quem sabe apreciar estas cousas banais. O meu melhor banquete nesta casa, á que venho várias vezes por ano, foi unha soberba “Açorda de Perdiz”, cuxo pecaminoso sabor, afoguei com um condenado “Pera-Manca”, vinho tinto superlativo da Cartuxa de Évora.   !!Amén!!

 

léria cultural

A BELEZA

.

                       “Plinio el Joven, en el libro tercero de sus Epístolas,
           escribe que no hay libro tan malo que no tenga algo bueno.
              Este dictamen, que Cervantes leyó, confirma mi sospecha
                                                          de que la belleza es común.”
                                                                    J. L Borges

 

A beleza fainos tremer.  É repentina, insólita.

En certo sentido a beleza parécenos repentina, sublime.

E cando falo de beleza

falo de certas persoas, dalgúns libros, de precisas paisaxes,

de escolleitas obras de arte, de luces e sombras, de cidades…

Quizáis para min a beleza sexa un Exceso.

Pero a beleza en sí non é un Exceso: é simplemente

unha deslocazón no Espazo e no Tempo.

Tamén ten que ver coa miña limitazón.

(Agora si que vos fastidiei.

Agora con esta sentencia

rarefeita, boquiaberta, intransmisíbel

si que vos amolei, e ben amoladiños, ¿non si?)

 

E cando falo de beleza

non falo de min, evidentemente, falo de outros seres e de cousas alleas.

E non quero dicir que eu sexa insoportábel,

xa se sabe que non o son…

mais a mitoloxía que busco – a mitoloxía que leo a diario –

quizais sexa INQUIETANTE:

odiada – por vós -, atractiva – para vós (os poucos que me facedes caso).

 

!Ai daqueles que naceron para correr

tras ríos subterráneos!

!Só os ríos que van dentro tremen.

E porque corre moi lonxe, unicamente o(s)

Río(s) Negro(s) ilumina(n) a LÚA

                                                     a FESTA

                                                     a SANTA COMPAÑA

                                                     a RAZÓN

                                                     a PATRIA

                                                        TODO O QUE NON É

                                                         NOSO MÁIS BRILLA

                                                         EN NÓS!

E como odiades as miñas leituras

voume quedar por aquí. Ide, ide

tomar baño prós rios de verdade,

en calzoncillos chupade xelados,

e mirade pró sol cos ollos pechadiños…

!Fai unha calor que até o sol anda coa boca

aberta!

 

francisco candeira