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Mentres camiñas por Lisboa
lembra o que sabes de Prisciliano
Someterse á maxia é crebar
a cadea das horas
Pombas espellos coxas un certo ángulo
É demasiado feble a reixa para
un soño ilícito
herexe avesedo
indica con figura xeométrica
o incerto o vago a desmedida ausencia
Despois converte as cores
en branco solidario
(loitando loita sempre)
Nacerá entón a luz nas pegadas
mentres camiñas por Lisboa
francisco xosé candeira
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Noutra direçao vai seguir a Europa continental. O frágil prestígio da democracia no primeiro pós-guerra e o medo da acçao revolucionária das massas vao conduzir a reflexao dominante sobre a necessidade do chefe e seguir um infeliz caminho autoritário, que terá nos totalitarismos europeos a seu apogeu. A desgraça da guerra e as dificuldades económicas dao o enquadramento propício para que o caminho intelectual da questao do chefe se faça em detrimento da questao da democracia. Certamente inspirado em Le Bon, o comandante De Gaulle traça, em 1927, a sua visao do problema e da soluçao que preconiza: “O nosso tempo é duro para a autoridade. Os costumes colapsam, as leis fraquejam. No lar como no trabalho, no Estado com na rua, é a impaciência e a crítica que suscitam, mais que a confiança e a subordinaçao. Os homens têm necessidade, no fundo, de serem dirigidos, nao menos do que comer, beber e dormir. Estes animais políticos têm necessidade de organizaçao, quer dicer, de ordem e de chefes.” A tonalidade autoritária da palabra nao cessa de evoluir e adensar-se-á á medida que a extrema-direita europeia ganha posiçoes: a necessidade do chefe torna-se desejo de chefe. depois, obsessao pelo chefe e, finalmente, culto do chefe. Esta cultura espalha-se um pouco por toda a Europa, com diferentes roupagens – Caudilho, Duce, Führer. O mundo soviético, apesar da teoria política assente no colectivo e na luta de classes, nao escapa ao fascínio do chefe. Lenine, antes de ganhar o congreso do partido, escreve o livro “Que faire?”, criando as bases teóricas de um partido de vanguarda, composto por revolucionários profissionais, capazes de comandar sem erros e dentro dos caminhos científicos da revoluçao. Estes revolucionários experimentados e conhecedores devem ser os chefes, os que guiam e comandam, sem falhas nem estados de alma, as massas rumo á revoluçao. Mais tarde, em 1920, Lenine defende-os contra a esquerda comunista alema que critica a “ditadura dos chefes”, identificando a “doença infantil do comunismo”; “…toda a gente sabe que as massas se dividem em classes… que as classes sao dirigidas… por partidos políticos; que os partidos sao, regra geral, dirigidos por grupos mais ou menos estáveis de pessoas que reúnem o máximo de autoridade, de influência, de experiência, trazidos pela via eleitoral ás funçoes mais responsáveis, e que se chamam chefes. Tudo isto nao é mais do que o abc. Tudo isto é simples e claro. Porque entao a necessidade de os substituir por uma qualquer algaraviada…” O tema do chefe parece, assim, nao escolher nem países, nem quadrantes políticos. Da esquerda á direita. ele está na ordem do dia. Lenine usa o termo “vozd”, que em breve será cuidadosamente reservado á direcçao política, com a zelo vocabular que sempre caracterizou o mundo comunista. No fim de 1924, um general pergunta a Estaline o que acha da fórmula “vozd” para designar Trotsky como chefe do exército. Este é perentório: “É preciso conhecer o autor dessa fórmula, “Trotsky, “vozd” do Exército Vermelho e puni-lo. É obrigatório mudar essa fórmula”. Esse termo, “vozd”, ficaria reservado para Lenine e para Estaline – guia, conductor, chefe. Na Alemanha, o caminho é o mesmo. Poucos acreditam na capacidade da democracia de Weimar para criar autoridade. Esta teria que ser procurada fora dela. A desgraça da derrota na guerra, veem-na os nazis como resultado da falta de chefia: “A guerra nao poderia ter acabado como acabou em 1918 senao porque nos faltou o grande chefe político”. Tal paranoia atinge o clímax já no período nazi: o chefe é o povo personificado, acima das facçoes, legitimado pela história e pela acçao. “Führerprinzip”: a vontade do chefe como lei suprema. Carl Schmitt, talvez o mais empedernido e talentoso jurista nazi, escreve em 1937: “O Führer é o portador da vontade popular; ele é independente de todos os grupos, de todas as associaçoes, de todos os interesses, mas é submisso ás leis essenciaes do povo”. Dispensando-se de dizer quais sao essas leis do povo ás quais o Führer está obrigado, mas que só este conhece, prossegue: “Ele transforma o que nao é senao um sentimento popular numa vontade consciente e cria, a partir do todo disperso, o grupo unido e pronto para agir… Uma tal vontade geral nao é uma ficçao, como é o caso da pretensa “vontade geral” da democracia, mas uma realidade política que encontra a sua expressao no Führer”. O chefe que, ao agir, une a naçao, encontrando nessa acçao a sua própria legitimidade. Mas falta o toque final – Hitler: “Até hoje nós pagamos os escrúpulos e o imobilismo dos governantes alemaes durante a I Guerra Mundial. Toda a indignaçao suscitada pela vergonha de um tal colapso concentrou-se em Adolf Hitler para realizar nele a força motriz da acçao política. Todas as experiências e todas as advertências contidas na história da infelicidade alema estao vivas nele. …O Führer protege o direito contra o mau uso e abuso; no momento do perigo ele legisla directamente, em virtude da sua qualidade de Führer e de autoridade judiciária suprema”. O chefe aparece finalmente em todo o seu esplendor – ele é a lei viva da Naçao. Julgo que esta cultura política (disputa) que se vai estabelecer entre a América e a Europa continental – esta tem medo das multidoes; aquela nao as teme e vê nelas a possibilidade positiva de uma competiçao democrática entre quem se candidata para apontar um caminho. A Europa procura um “chef” capaz de pôr ordem na anarquia e nas discussôes parlamentárias estéreis; a América aceita o debate, o conflito, a pluralidade de interesses, e procura o “leader” capaz de dar resposta operativa aos anseios maioritários. O perfil europeo de “chef” é imperativo – o que manda e ordena; o “leader” americano reclama uma adesao livre – é aquele que inspira e que convida a seguir. Na Europa continental (a Inglaterra manter-se-á fiel ás suas tradiçoes democráticas), o debate vai conducir á ideia de que o “chef” é incompatível com a democracia – ou um ou o outro. Na América, pelo contrário, é a qualidade da democracia que exige e reclama o “leader”. O que separa as duas teorias de comando é a democracia.
JOSÉ SÓCRATES
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