UNAMUNO E ZAMBRANO

.
Uma certa sabedoria poética que podemos rastrear nas próprias orixens da filosofia. Embora tenham vivido períodos diferentes da história, podemos inscrever Miguel de Unamuno como interlocutor de Ortega e Maria Zambrano como discípula declarada, numa linha contínua do pensamento, que busca a proximidade entre a filosofia e a poesia. É da fantasia que surxe a razon, e non ao contrário, poetas e filósofos son, neste sentido, quase xémeos, se é que non son a mesma coisa. Ambos reivindicando o poder cognoscitivo da metáfora. Qualquer discurso racional se encontra replecto de uma interpretacion prévia da realidade, que é sempre simbólica, sentimental, “enquanto nós somos o sentir” como uma porta de acesso privilexiada, através da qual o homem entra em contacto com a realidade e consigo próprio. Sentir-se a ser, sentir o acto de ser, implíca a primeira forma de autoconsciência e de descoberta de si próprio, o sentimento representa para ambos o protótipo orixinário através do qual o homem se experimenta como um ser que – acima de tudo – existe: “sentir-se homem é mais imediato do que pensar”, invertendo o cogito cartesiano para “sum, ergo cogito”. “por acaso há um conhecer puro sem sentimento, sem essa materialidade que o sentimento lhe presta? Ou sexa, o nosso modo de compreender ou non compreender o mundo e a vida, brota do nosso sentimento em relacion á própria vida”. Em suma: a vida non se pode viver sozinha, e muito menos sem xustificar o que fazemos perante o único tribunal competente para isso: nós próprios. A única existência autêntica é a que nos assinala a nossa vocacion. Numa magnífica expression, “a vida é abandono do ser em disponibilidade”, ou sexa, somos muitas coisas em potência, mas só somos efectivamente aquelas que fazemos. Só a accion certifica o pensamento. A vida é por antonomásia o que há por facer, e quem, “tenta evitar esta condicion substancial da vida”, “recebe dela o mais horrível castigo: ao querer non facer nada aborrece-se, e enton fica condenado ao mais cruel dos trabalhos forçados, a fazer tempo”.

CARLOS J. G. S.
Esta entrada foi publicada en
Uncategorized.
Ligazón permanente.