
.
Uma certa sabedoria poética que podemos rastrear nas próprias orixens da filosofia. Embora tenham vivido períodos diferentes da história, podemos inscrever Miguel de Unamuno como interlocutor de Ortega e Maria Zambrano como discípula declarada, numa linha contínua do pensamento, que busca a proximidade entre a filosofia e a poesia. É da fantasia que surxe a razon, e non ao contrário, poetas e filósofos son, neste sentido, quase xémeos, se é que non son a mesma coisa. Ambos reivindicando o poder cognoscitivo da metáfora. Qualquer discurso racional se encontra replecto de uma interpretacion prévia da realidade, que é sempre simbólica, sentimental, “enquanto nós somos o sentir” como uma porta de acesso privilexiada, através da qual o homem entra em contacto com a realidade e consigo próprio. Sentir-se a ser, sentir o acto de ser, implíca a primeira forma de autoconsciência e de descoberta de si próprio, o sentimento representa para ambos o protótipo orixinário através do qual o homem se experimenta como um ser que – acima de tudo – existe: “sentir-se homem é mais imediato do que pensar”, invertendo o cogito cartesiano para “sum, ergo cogito”. “por acaso há um conhecer puro sem sentimento, sem essa materialidade que o sentimento lhe presta? Ou sexa, o nosso modo de compreender ou non compreender o mundo e a vida, brota do nosso sentimento em relacion á própria vida”. Em suma: a vida non se pode viver sozinha, e muito menos sem xustificar o que fazemos perante o único tribunal competente para isso: nós próprios. A única existência autêntica é a que nos assinala a nossa vocacion. Numa magnífica expression, “a vida é abandono do ser em disponibilidade”, ou sexa, somos muitas coisas em potência, mas só somos efectivamente aquelas que fazemos. Só a accion certifica o pensamento. A vida é por antonomásia o que há por facer, e quem, “tenta evitar esta condicion substancial da vida”, “recebe dela o mais horrível castigo: ao querer non facer nada aborrece-se, e enton fica condenado ao mais cruel dos trabalhos forçados, a fazer tempo”.

CARLOS J. G. S.
Publicado en Uncategorized

A obra mais conhecida de Ortega y Gasset no panorama filosófico espanhol e internacional é, sem dúvida, A Rebelion das Massas. Neste livro publicado em 1929, o seu nome começa a ecoar com força no âmbito académico europeu. Apesar de terem passado mais de noventa anos desde a sua redaccion, A Rebelion das Massas continua a ser um livro de extrema actualidade, Ortega procura através deste livro comunicar aos seus concidadans que a convivência e a sociedade son termos “equipolentes”, pois “sociedade é o que se produz automáticamente pelo simples facto da convivência. Por si só, e inelutávelmente, esta segrega costumes, usos, língua, direito, poder público”. Complementando as teorias contractuais de Rousseau. Ortega assegura que non son as vontades e a sua union que fazem uma sociedade, é a comunidade dessas vontades que, de facto, xá pressuponhen um constructo social. Nesta obra, o nosso filósofo tenta descobrir porque triumfam na Europa os movimentos que se definem pela homoxeneidade, constituídos pelo que denomina “homem-massa”, um indivíduo que, na sua opinion, se esvaziou de História e que non tem “entranhas de passado”. O homem-massa é só uma aparência de homem, uma pura carapaça que se alia ao que lhe parece mais conveniente em cada momento. A sua vontade move-se na direccion para onde sopra o vento em cada conxuntura social e política, deixando-se levar pelas modas efémeras. Ortega questiona um assunto fundamental: “As massas podem, mesmo que queiram, desertar da vida pessoal?”, ou sexa, o homem-massa é capaz de interiorizar o compromisso que adquire com a sociedade por ter nascido no seu seio? O indivíduo pode desenvolver a capacidade de despertar a sua consciência quando é parte da massa? Em Ortega a massa converte-se numa prision onde se amontoaram muitos seres, mas non há lugar para o movimento. Embora tenha chegado um momento histórico no qual a ascension das massas ao poder tenha repercutido na forma de governar e de se relacionar. É isso que Ortega chama “a rebelion das massas”: o triunfo do cheio, da aglomeracion sem sentido, que o que a massa provoca é a ausência de sítio, de espaço no qual se desenvolver, e o espírito afoga-se. O violento da massa é que ameaça derrubar qualquer possível apogeu de uma minoria, pois o muito, o imenso, “derrota tudo o que é diferente, egrégio, individual, qualificado e selecto”. O nosso pensador sente-se aterrorizado de viver sob o brutal império das massas. A massa non se apercebe, pois vive no puro presente, no mais descarnado viver por viver. Numa interpretacion que poderia ser delineada hoxe mesmo, Ortega pensa que a sociedade do seu tempo sente-se preparada para facer muitas coisas; mas falta-lhe o objectivo, o quê, non sabe o que levar a cabo, embora tenha forças a mais: “domina todas as coisas, mas non é dona de si própria”.
CARLOS J. G. S.
Publicado en Uncategorized