ELIAS CANETTI

img_5987.                              A MASSA

               Uma das questions que mais preocupou Elias Canetti (1905 – 1994) foi o da morte.   Xá num ensaio de 1962 insistia na vinculacion entre o poder e a sobrevivência; neste escrito manifestava, até que ponto o interesse pela morte está subxacente e inclusivamente precede aquelas duas nocions fundamentais.   Desde muito xovem, as criacions deste autor, tan escassamente conhecido – apesar de ter recebido o Prémio Nobel da Literatura em 1981 – têm impressa a marca da non-aceitacion do nosso fim definitivo; no início de A Língua Posta a Salvo, lemos que “há poucas cousas mais que non se devesse dizer do ser humano e da humanidade.   E, no entanto, o meu orgulho em relacion a ela continua a ser tan grande que só odeio verdadeiramente uma cousa: o seu inimigo, a morte”.   A reflexion sobre esta converte-se em obsession no conxunto da obra de Canetti, sempre em constante diálogo e discussion com os pensadores defensores da morte, situando-se em total oposicion face áqueles que a xustificam, desde os estoicos até Freud.   Deste interesse pelo nosso fim individual, que tanto preocuparia um interlocutor comtemporâneo de Ortega, Miguel de Unamuno, surxindo em paralelo a persistente ideia sobre o poder.   Assim, em A Província do Homem, Canetti explica que graças aos esforços de um punhado de homens por afastar de si a morte, surxe a “monstruosa estructura do poder”.   Em clara alusion a Hitler, Canetti denunciava que para que um só individuo pudesse seguir com a vida, tornava-se necessário – como contrapartida – um numero indefinido de mortes”.   “é aqui que deveria começar o verdadeiro Iluminismo que estabelece as bases do direito de todo o individuo de continuar a viver”.   Outro dos conceitos fundamentais na obra de Canetti é o de massa, Canetti estuda-a numa dupla perspectiva; como fenómeno que atrai e fascina e como espaço no qual o eu fica diluído e suxeito ás manipulacions do poder.   Sobre este aspecto dual, é muito recomendável a leitura da sua peça de teatro A Comédia da Vaidade.   O que o levou a começar a escrita de Massa e Poder, como el próprio nos conta, foi uma manifestacion operária á qual foi em Frankfurt quando apenas tinha 17 anos; a imaxem da multidon ficou definitivamente impressa na sua memória.   Vale a pena reproduzir a descripcion que deixou expressa em A Tocha no Ouvido: era a atraccion física que non conseguia esquecer, esse desexo intenso de me integrar, á marxem de qualquer reflexion ou consideracion, xá que também non eram as dúvidas que me impediam dar o salto definitivo.   Mais tarde, quando cedi e me encontrei realmente no meio da massa, tive a impression de que estava alí em xogo algo que em física se chama gravitacion.  Pois, uma pessoa non era antes, estando isolada, nem depois, xá dissolvida na massa, um obxecto sem vida, e a mudança que a massa operava nos seus integrantes, essa alteracion total da consciência, era um facto tan decisivo como enigmático.   Esta obsession pola massa acompanhou Canetti durante o resto da sua vida, interesse que foi aumentando após a leitura de Psicoloxia das Massas (que Freud tinha publicado em 1921, oito anos antes do aparecimento de a Rebelion das Massas de Ortega): nesta obra defendia-se a existência de uma espécie de “alma colectiva” na qual se dan, como o próprio Freud indica, “relacions amorosas” (ou para utilizar uma expression neutra, laços afectivos).   A massa tem de se encontrar mantida em coesion por algum poder.   E a que poder é factível atribuir essa funcion se non for ao Eros, que mantém a coesion de tudo o que existe?”.   Definitivamente, o pai da psicoanálise defendia que o integrante da massa sente necessidade de estar de acordo com o resto de integrantes do conxunto ao qual pertence, e non habitar em oposicion a eles, o que Freud catalogou como “amor dos outros” (inclusivamente chegou a assegurar que este tipo de union estabelecia novos “laços libidinosos” entre os membros da massa).   Lonxe deste impulso erótico a que Freud se refere, Canetti explica, logo no início de Massa e Poder, que o homem nada teme mais do que ser tocado pelo desconhecido: “desexamos ver o que nos tenta apressar; queremos identifica-lo ou, pelo menos, poder classifica-lo.   Em todo o lado, o homem evita o contacto com o estranho.   Esta aversion ao contacto non nos abandona quando nos misturamos com as pessoas”.   Para Canetti, só existe um caminho possível para contornar este terror pelo contacto físico com alguém desconhecido, para evitar a tension com a qual esperamos as desculpas e, em xeral, para eludir todo um universo psíquico escuro que se abre perante nós ao sermos tocados pelo estranho: submersos na massa.   Assim, “de repente, tudo acontece como dentro de um só corpo.   Quanto mais intensamente se estreitam entre sí, mais seguros estarán os homens de non se temerem uns aos outros.   Esta  inversion do temor a ser tocado é característica da massa”.   A partir desta descoberta do submundo humano, Canetti elabora uma monumental obra que se encarrega das características da massa e das condicions que se devem verificar para que esta se possa formar, manter e finalmente desaparecer, tendo em conta que os atributos xenéricos da massa non variam: quer sempre crescer (a sua natureza expansiva non conhece limites e, se existem, son criados artificialmente); no seu interior reina uma igualdade nunca posta em causa; ama a densidade (nada a vai dividir nem interpor-se entre os seus membros); e, por último, precisa de uma direccion, está em movimento e move-se para algo (existirá sempre que tenha prescrita uma meta non alcançada).   O que atrai em massa e poder, face a posicions como a de Ortega ou como a de Freud, é Canetti nos oferecer uma explicacion quase demoníaca dos fenómenos próprios da massa.   Esta atrai-nos e repele-nos da mesma forma.   Submersos na massa, quem quer que sexa, que se aperte contra nós é idêntico a nós próprios, sentimo-lo como a nós próprios, tornamo-nos um só corpo em virtude do terror de sermos tocados pelo desconhecido.   A vida está feita de distâncias.   Daí que, para Canetti, o fenómeno mais importante que se produz no seu interior sexa o que chama “descarga”:  “antes dela, a massa non existe propriamente só a descarga é que a constitui a sério.   É o instante no qual todos os que fazem parte dela se desfazem das suas diferenças e sentem-se iguais”.

CARLOS J. G. S.

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