Categorías
Arquivo
- Agricultura Alimentación Anonymous Arquitectura Astronomía Blogs para curiosear Bos desexos Cerebro Cine Darío e Breixo Economía Educación Frutais Futuro Historia Humor Indignados Libros Lingua Literatura Medios de comunicación Monte Comunal Natureza Poesía Política Procomún Publicidade Sidra Socioloxía Software libre Tradicións Viaxes Xadrez
Os nosos blogs
Arquivos mensuais: Outubro 2015
ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR
“Sem esquecer, que na vida nada é fácil, e que na História, nada é simples.” António de Oliveira Salazar, home de família humilde, e que vinha do seminário, foi elevado ás mais altas cotas do estado, pelo Xeneral Carmona, que sentia por el um profundo apreço. Professor de Economia Política da Faculdade de Direito de Coimbra, foi nomeado Ministro das Finanças. Diputado Católico durante um dia, em mil novecentos e vintium. Ministro das Finanças durante uma semana, em mil novecentos e vintiseis. Nunca casou (algo de Príscilianista habitava o seu intre), vivia só, acompanhado de unha criada que trouxera consigo da terra, com ela conversava sobre as cousas da aldeia comun (a sua vontade de ser enterrado em Santa-Comba, foi respeitada escrúpulosamente. Non como Saramago, que despois de morto fixeron com ele o que lhes deu a gana.) Um supremo desdém dos homens, abalava todo o seu cerne, “mas estava ainda lonxe o dia em que unha modesta cadeira, quebrando pos fim a unha carreira política excepcíonal, em mais de um aspecto. Formacion de um partido político único, em mil novecentos e trinta e um (Uniao Nacional). E de unha polícia de defensa do estado, célebre em todo o mundo (como lhe gusta ós portugueses), chamada (PVDE) e mais tarde (PIDE)”. Os orçamentos queriaos equilibradinhos (estava antícipando os nossos tempos “democráticos”), graças á miséria para quase todos, e previléxios desmesurados para um pequeno grupo (“Sempre houve pobres, sempre os há-de haver, é preciso que os haxa.”) Comiam os dignatários, os grandes industriais e os banqueiros, a igrexa comia por partida dupla ( Os “Certificados de Moralidade”, eram passaportes indispensáveis para recomendas e empregos.) As “Famílias” dos super-ricos casavam entre sí. “Os Meninos de Ouro”, os Melos, proprietários da Companhia Uniao Fabril (CUF), empresa de talha mundial. Os Champalimaud, potentados de Angola, Moçambique e da Siderurxia Nacional. Os Espírito Santo (que em bons tempos foron os reis da banca). “Aos favoritos distribuiu prebendas, mercês e para melhor os dominar, permitiu-lhes que roubassem impunemente, conservando para sí a auréola de incorruptibilidade, de desinteresse material e asceptismo.” “O Espantalho”. “O Sinistro Guarda-livros”. O que durante quase meio século, fez a “Res Pública Portuguesa”, coisa sua, segundo a version dos seus inimigos. Para os outros, porem, na verdadeira realidade, Salazar nunca mandou em Portugal, foi sempre um grande negociador, entre os poderosos do país. Aqueloutros, que muito menos humildes, eran os detentores do mando. O meu amigo Maquieira, do qual sigo tendo unha grata memória, Quando fixo a sua tésis doutoral, ficou completamente fascinado pela personalidade de Salazar. Contava que quando faleceu, na sua conta bancária somente habia a módica quantia de quinhentos contos de reis. Tamén que quando um parente de Franco o veio visitar a Lisboa, o próprio Salazar lhe abriu a porta do palácio, pedindo disculpas porque a sua criada fora visitar unha pessoa da terra, e non se encontrava nesse momento. O visitante ficou atónito, como este homem poderoso vivia assim, sem guardas nem pompa de qualquer espécie. Que tranquilidade, comparada com o axetreo dos palácios de Madrid. Famoso foi tamén o caso do Ministro, que lhe foi agradecer a sua nomeaçao, Salazar veio despedilo á porta, colheu um chapéu do cabide e meteulho na man. “Nao uso chapéu, senhor presidente!”, “Daquí em diante, passa a usar!” Manuel Gonçalves Cereijeira, Catedrático de Coimbra, e amigo íntimo de Salazar na xuventude, viria a ser Cardeal Patriarca de Lisboa. No dia seguinte á morte de António Salazar, o Cereijeira largava amarras (entrevistado por um escritor da sua confiança, confessava: “O Presidente Salazar, era um homem de muitas qualidades! Mas virtudes? Nao! Nenhuma!” Político do Nacionalismo e da Tradiçao, Xenófobo, sempre se opuxo á venda da “Coca-Cola” em Portugal, e recusava dar licenças para a instalacion de “Snack-Bars”, pois dizia que “Só os américanos e os cabalos, comem de pé”. Terminado o “Quartelazo” militar em Espanha, com o triunfo das direitas. “E começada a Segunda Guerra Mundial, com as victórias espéctaculares de Hitler e Mussolini. Como consequencia, Salazar imforma a Inglaterra de que a Aliança secular, entre os dous países de forma alguma obriga Portugal a entrar na guerra. E assim foi acontecendo, até que os ventos da História começaron a mudar. Enton á “querida” Gran-Bretanha, abre em mil novecentos e quarenta e tres, man da base militar das Açores, permitindo aos aliados eliminar rápida e eficazmente a ameaça dos submarinos alemans no atlântico. O xesto era oportuno, mas tardio, e quando a guerra termina, Portugal é posto de lado pela “Comunidade Internacional”. Mas posto de lado, é maneira de dizer. Porque começava a “Guerra-Fria”, reintegrando inmediatamente a Salazar, no campo dos “amiguinhos”, dos anticomunistas fiéis, e Portugal, mais unha vez é elevado á categoria dos bastioes que defendem os sagrados valores do occidente.” Penetrando na NATO em mil novecentos quarenta e nove, e nas Nacions Unidas em mil novecentos e cinquenta e cinco. Salazar, que foi considerado, por votacion popular (num programa punteiro da RTP, xá bem entrada a “Democrácia” em vinte anos), como “o melhor português de todos os tempos” .
Publicado en Uncategorized
O ESPELHO VAZIO
.
Dos lugares que os homens criaram para se abrigar, o café é o que mais rua tem. Por isso, Mário Cesariny gostava tanto de Cafés. Aí, sentia-se onde poesia estava, onde “sempre esteve”. Aí, lembrando Lautréamont, podia fazê-la em comum. Foi em cafés que escreveu os poemas. Foi em cafés que conversou com os amigos e até com os inimigos. Foi em cafés que fitou os corpos com um olhar que os tornava mais visíveis. Era nos cafés, e no que eles tinhan de rua, que se sentia verdadeiramente em casa. Cafés cheios de fumo e de fadiga e de fuga e de fúria. Cafés onde se estava porque nao havia sítio melhor para estar. Cafés que resumiam o seu entendimento da vida: café-manicómio, café-convés, café-asilo, café-escritório, café-quase-salao e, pois claro!, café-de-engate. Viciado em cafés, nunca o vi aí tomar um café. Pedia uma água mineral e, muitas vezes, usava-a para lavar as maos, porque desconfiava que, depois de bebida, a garrafa era enchida pelo dono da casa. Ria e, em quanto a vertia nos dedos em abluçao ritual, olhava á volta para a “malandragem” que habitava as mesas e exclamava: “A água é a única coisa que nao é de confiança neste café”. Nos tempos gloriosos do grupo surrealista, era nos cafés (Herminius, Royal, Gelo) que se incendiavam a eles próprios e era a partir dos cafés que queriam incendiar o mundo. Depois, toda a sua vida foi vivida, nocturnamente, em cafés, até que os cafés acabaram e ele começou a acabar como eles. Passei, durante anos todas as noites, milhares de horas com Mário Cesariny, nos cafés e nas ruas á sua volta. Esse tempo foi o mais lúcido e o mais bem aproveitado da minha vida. Estou a vê-lo chegar, alto, magro e direito, como um fidalgo que nunca perde o porte. Logo que entrava, punha-nos, com o que dizia, á altura do desconcerto do mundo. Se alguém estava a ler um jornal, perguntava: “Fala de nós?! Se nao fala deita fora”. E sentava-se, com o olhar aceso de inteligência, gravidade, assombro, malícia e imaginaçao, a qual, como escreveu, é o contrário da fantasia e, por isso, habita o real. A conversa começava e nao mais parava, a nao ser que el quando ele fazia um silêncio para nos dar a ver melhor, como uma mímica só dele (que, para mim, se tornava uma mnemónica), o que queria dizer. Fazia perguntas para fazer das nossas respostas o chao a partir do qual levantava voo até ás alturas onde o ar era mais puro e rarefeito: ou para descer aos abismos onde o fogo queimava mais. Costumava dizer, cingindo o rosto com as maos, que tinha ardido num incêndio e aquele era o resultado. Esse incêndio era o Portugal da polícia de costumes, da censura, da PIDE, do “respeitinho é que é bonito” e do “trabalho é que educa”, onde viveu (nao o esqueçamos nunca!) cinquenta anos da sua vida, uma parte deles perseguido por “suspeita de vagabundagem”, ele mostrava a perversidade do ataque, lembrando que, se a acusaçao fosse de “vagabundagem”, era fácil provar a sua verdade ou falsidade, mas que uma “suspeita de vagabundagem” nao tinha prova possível e assim podia ser eterna…), e que afrontou da maneira mais intensamente livre que se pode: fazendo do seu corpo um lugar “tenebroso e cantante”, o sítio mais subversivo do universo. É por isso que a sua poesia nos ilumina e aquece e queima como a proximidade de um fogo alto e inextinguível. Para o converso tudo servia: o que acontecia e nao devia acontecer e o que nao acontecia e devia acontecer. Portugal (que, segundo ele, acabou na Segunda Dinastia, e de que desconfiava como se desconfia de alguém que já nos “fez várias”) ou o estrangeiro ( a sua viagem ao México, por exemplo), a política ou o amor, a poesia, que para ele era o contrário da literatura, ou a magia, a pintura ou a filosofia esotérica, os Aztecas, os OVNIS, Sade ou o amor entre Rimbaud e Verlaine. E os Pré-Rafaelitas, Swedenborg, Blake, Breton, Artaud, Gener, Paz. Ou os Cancioneiros Medievais, Gil Vicente, Bocage, Antero, Gomes Leal, Cesário, Sá Carneiro, Pessoa, Raul Brandao, Pascoaes, Botto, E Giotto, Bosch, os painéis de Nuno Gonzalves, Picasso, Miró, Dalí, Bacon, Vieira da Silva, Paula Rego. E também (ora essa!) o senhor Manuel da Hortaliça, o Grande, a Galga, a Doble-Quina, Titânia, o Reinaldo ou o Gato (Quem quiser saber mais leia Titânia história hermética em trés religioes e um só Deus verdadeiro com vistas a mais luz como Goethe queria: está lá tudo demonstrado). Dizia poemas de cor (sabia imensos e sabia-os dizer como ninguém), contava histórias do tempo em que “até os arrebentas tinham boca: queriam ser beijados, falava de sonhos e de pesadelos, de coincídencias e de acasos despectivos. E as troças que faziamos eran esplêndidas. De repente, nele e em nós com ele, era como se comparecessem, todos juntos, os narradores do Decameron, das Mil e Uma Noites e dos Cantos de Cantuária, com as suas vozes ora roucas ora agudas, os olhos ora astutos ora inocentes, as maos ora lentas ora ágeis. Quando a noite atingia o zénite, no meio do barulho do café, erguia-se a voz de Cesariny a declamar o Salve Rainha, dramatizando com gestos lúgubres o que ia dizendo. Ao chegar á passagem “A vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas, bradava mesmo, com voz luctuosa e suplicante. Esta oraçao, que sabia toda de cor, era para ele como que uma “vera efígie” de um cristianismo enlouquecido, contra o qual tinha erguido a sua magnífica liberdade de corpo, de alma e de espírito. É verdade: Cesariny adorava ouvir histórias e adorava contálas. Para começar, as da infância, quando ia de férias para a casa da família, na Póvoa do Varzim. Havia um tio, homem “importante dos regimes”, que nao tinha aceite, para nao deixar a terra nem a pacatez, um lugar no goberno de Salazar. A mulher dele, espanhola efusiva e ambiciosa, insultava-o por isso, enquanto ele permanecia silencioso, a trabalhar no escritório. Toda a manha, ela andava pela casa atirando-lhe á cara um nome: estúpido. E, ao mesmo tempo, dizia baixinho, contentissima para o jovem Mário: “Niño, já viste o que é chamar estúpido a um homem desta posiçao!” Beata, esperta e má, quando regressava da missa,inspecionava minuciosamente a limpeza da cozinha e apertava o pescoço das criadas, gritando. “Este tacho nao tem o brilho que devia ter. Há aqui uma mancha. Isto é um pecado. Deus está nos pormenores”. Outra história que o divertia e nos divertia era a do poeta-aristócrata do Tâmega, devotado imitador de Pascoaes, e roído por uma avareza ainda maior do que a sua fortuna. Recebia, ao serao, no grande solar e, todas as noites, a certa hora, aparecia, no salao, uma antiquíssima e idêntica caixa de bolos. Era o dono da casa quem apresentava a lata, abrindo-a e fechando-a, instantaneamente, em frente de cada pessoa presente, sem que alguém se atrevesse a tirar sequer uma migalha, porque sabian que isso o poria rubro de raiva. Certa vez, um convidado desprevenido tentou tirar um bolo e foi imediatamente entalado pela tampa que o poeta, num gesto automático, fechou sobre a sua mao. O conviva deu um grito de dor e o avarento exclamou: “Nunca queres! Nunca queres!” Cesariny contava estas histórias e ria muito, muitíssimo. A sua ironia valia um ensaio literário. Ele gostava dos grandes poemas de Eugénio de Andrade (“Green-god”, “Espera”) e sabia-os de cor. Mas gostava menos de alguns, como dizer?, mais “preciosos”. Assim, quando ás veces se despedia de nós, dizia, mordaz: “Boa noite. Eu vou com as aves”, usando o verso de um desses poemas… Durante anos, o Reimar, na rua das Pretas, foi um templo de visita quotidiana obrigatória. Chegava-se lá e a “coisa” já estava montada. Quero eu dizer: havia sempre “coisa”. Ao pé “daquilo”, Fellini era Cecil B. De Mille. As empregadas, a Mena e a Mina, tinham as vozes sempre no tom e na altura em que a Maria Callas brilhava. Quando chegava a hora do tiroteio, faziam do balcao uma trincheira, deitavam-se no chao e esperneavam como se estivessem ligadas á corrente eléctrica. E, se calhar, estavam! O senhor Manuel da Hortaliça, ou do Bairro Alto, que antes tinha descido o Chiado entre a mulher, dedicada enfermeira dos Hospitais Civis, e o amante, aprumado marujo do Alfeite, ameaçava (ou estaria a oferecer conteúdos?) a tropa especial, agitando a pochette. E dizia para as “amigas”, “Vai com este, que é muito limpinho e nao mexe em nada”. Nesse magníficente antro, havia de tudo: putas e homens “coisa e tal”, chulos e travestis, artistas e ladroes, professores primários em crise de identidade e fadistas (com e sem voz), operários e vagabundos sem eira nem beira, filósofos ocultistas e jornalistas (proibidos, sob ameaça de morte, de falar do que alí se passava), funcionários públicos casados, mas com heterónimos sexuais, milionários em fuga para um Egipto qualquer, poetas e pintores, maiores e menores. E, se Cesariny era um enviado do fogo, havia também, apolíneos e dionisíacos, enviados (alguns fardados) dos outros trés elementos, terra, mar e ar, a que se juntavam, em temível contraste, anoes, gigantes coxos, zarolhos, corcundas, gagos e mudos. “Tudo boa gente”, dizia Cesariny. E acrescentava “Comparado com isto, o que Ulisses viu na viagem de regreso a Ítaca era banal…” Por entre a ginjinha e as ímperiais, de que a Mina e a Mena bebiam golinhos, antes de as entregarem aos clientes (“é para ver se estao fresquinhas”, diziam), falava-se de Nietzsche e do marujo da mesa ao lado. Alí estávamos como se estivéssemos em plena idade Média, o seu tempo histórico do Ocidente preferido (“com tanta treva e tanta peste, deviam querer aproveitar bem o tempo, divertindo-se muito…”, explicava) Mário Cesariny gostava de anarquistas, videntes, usurpadores, blasfemos, xamas, incendiários e revoltosos. E de reis destronados, deuses abolidos, bruxas ameaçadas, fidalgos arruinados, náufragos salvos no último minuto. Gostava de gostar e gostava que gostassem-até dele. Gostava de nao gostar e nao gostava que alguns nao gostassem dele. Nunca conheci ninguém que, ao mesmo tempo, tivesse em tao alto grau o sentimento trágico da vida e o sentimento cómico da vida. A sua palavra era grave e ameaçadora e alegre e ácida e inocente e ameaçado e leve e dura e genial, no juntar tudo isso na sua voz única, no seu olhar-clarao, na altivez, com que se impunha aos medíocres de todas as vaidades, culturas, universidades, classes, terras, aptidoes, idades e especialidades. Gostava de falar da “inteligência estúpida” e da “estúpidez inteligente”; contra o “discurso discursivo” e a “arte artística”. Este Cavafis de uma Lisboa-Alexanddria, que, nas ruas, falava com malucos, tresnoitados, mulheres do trapo ( havia uma de quem dizia “é igual á Vieira”), visionários, apocalipticos e seres de outros planetas que vinham tomar a bica á Avenida da Liberdade. Nessas falas com eles, tinha o dom de as tornar o que eram: poetas. O seu atelier da Calçada do Monte, onde ouviamos incessantemente os concertos para violino e orquesta de Beethoven e de Tchaikovsky, ficava num pátio com diferentes oficinas ( de estofador, por exemplo) e também tinha muita rua. Raro era o dia em que nao acontecesse qualquer coisa que dava uma história para contar, desde o que se passou no pátio, a seguir ao 25 de Abril, com motins, intentonas, escândalo sexual do senhorio, plenário de inquilinos na voz do Operário e chapéu de palha comido por um ser humano, até ao vizinho que ele, uma tarde, descobriu, degolado e frio, atrás da porta, passando pelo estranho caso de um assaltante que lhe entrou no atelier, com as paredes cheias de quadros a que nao atribuiu qualquer valor, e que nao só nao levou nada, como ainda esqueceu lá um guarda-chuva, deixado num canto, sem que Cesariny lhe quisesse tocar. Passado muito tempo, numa noite de súbita invernia, em que o único chapeu que havia era aquele, acabou por usá-lo e, debaixo dele, foi assaltado a caminho do Martim Moniz, onde ia apanhar táxi… Os vizinhos pressentiam-no célebre (até porque Mário Soares ia ao atelier), chamavam-lhe “senhor Mário”, mas tratavam-no como ele gostava de ser tratado: com a franca cortesia medieval praticada entre a gente das várias artes e ofícios… “Tudo isto vive em mim para uma história, de sentido ainda oculto, lapidar e seca, como uma povoaçao abandonada aos lobos, lapidar e seca, como uma linha férrea ultrajada pelo tempo”, digo eu, agora, com versos dele. Houve uma época, já os cafés tinham acabado e ele estava muito em casa, andei ocupado e nao o pude visitar com a assiduidade de que ele gostava e que era própria da nossa amizade. Uma tarde, o Al Berto, tinha morrido e eu fui á Basílica da Estrela. Quando entrei na capela mortuária, plena de gente, Cesariny estava sentado junto do corpo do poeta morto. Ao ver-me, ergueu-se e gritou, no silêncio: “Vens visitar um morto e nao me vais visitar a mim, que ainda estou vivo!” Quando agora o velei no Palácio das Galveias, lembrei-me destas palavras, mas, estranhamente, nao senti que estivesse junto de um morto: vi apenas um espelho Vazio. Mas a sua presença é tao forte em mim que nada, nem a morte, a consegue tocar. Por isso tenho vivido estes primeiros dias da sua ausência como quem olha, de olhos muito abertos, o escuro, perscrutando-o e sabendo que Cesariny é como um desses astros mortos que continuam a iluminar a nossa noite.
José manuel dos santos
Publicado en Uncategorized
ARQUEOLOXIA
KUÉLAP
Este xacimento arqueoloxico que pode estar relacionado com o nosso país, é um dos grandes enígmas atlânticos. Subindo polo Amazonas arriba, e continuando pela conca do rio Maranhon até terras do alto Pirú, encontramos a tres mil seiscentos metros de altitude, rodeado de um clíma frio e chuvento, um Castro de quinhentas casas circulares, feitas de pedras pequenas e telhado de colmo (O circulo que nunca tem fim, representa a eternidade do mundo), todas rodeadas por unha cíclopea muralha de pedra de vinte metros de altura, com várias entradas defensivas estreitas, chamado Kuélap.
Ésta Civilizacion bem organizada, com poucas divisions xerárquicas entre o seu povo, e unha excessiva preocupacion pelos seus mortos que múmificavan e colocavan nas encostas das montanhas habitadas pelo povo (Há muitas múmias, que se conservan em bom estado). Os Incas, que son unha Civilizacion posterior, bautizaron-nos como Chachapoyas, o qual significa “Xente que vem das nubes”, e sentian um grande apreço pelas suas mulheres, brancas e louras (Pedro Cieza de Leon). Os grandes guerreiros Chachapoyas levavan unha funda de lanzar pedras, atada ós cabelos á maneira de cinta, ídentica á dos fundeiros Baleares, e um gorro na cabeza que os caracterizava. Foi encontrada unha machada de bronze com hasta de marfim, com mais de mil anos, representando um touro (Animal que non existia no continente Americano). A escultura dos Ídolos e a cerámica, parecen ter ínfluencias Célticas, com cabezas similáres á cornamenta do deus Cernunus.
Manexa-se a possibilidade de que houvera unha mígracion posterior á toma de Cartaxo pelos Romanos, e tamén que foran xentes da ribeira Atlântica Céltica, mais concretamente da Galiza, pela símilitude das casas com os Castros Galegos. A povoacion Chachapoya, disminuiu drásticamente em um noventa por cento após a colonizacion espanhola, pensa-se que talvez por doenças transmitidas pelos conquistadores.
Despois de tudo o dito, fago um apelo á povoacion de Guillade, para facer unha excursion ó Alto Maranhon, levando unhas empanadas, a ver se conseguimos encontrar algo d’ouro.
Léria Cultural.
Publicado en Uncategorized
SULPHUR
Cada remédio Homeopático tem o seu próprio conxunto de características, e parece que funciona melhor em pessoas que encaixan nunha determinada típoloxia. A configuracion constitucional do “Sulphur” é única. Há dous tipos de pessoas que precisan deste remédio. En primeiro lugar está a filosófica, qualificada de profundo pensador, e que gosta de mostrar á xente quanto intelixente é, tem um aspecto descuidado (posto que a apariencia non é importante para el), e prefere a solidon. Outro tipo de “Sulphur”, é mais sociábel e extrovertido e gosta de rodear-se de pessoas. As mulheres deste xénero son inxéniosas, líderes no seu terreno e a miúdo as cabeças vísibeis do seu grupo ou empresa. Os nenos podem ser extrovertidos e muito curiosos, xá que querem saber como funciona tudo e sempre preguntan o porque. Todas éstas pessoas, tenhen quase sempre calor, suan com facilidade, gostan de habitacions frías e a miúdo dormen sem manta sobre tudo os nenos. Tamén gostan de bebidas frias, comer tanto pratos fortes como doces, graxas e alcóhol, e adoran a cervexa. Son noctâmbulos, gostan de permanecer despertos a altas horas e deitar-se com a aurora.
O “Sulphur” serve básicamente para, erúpcions cutâneas, fadiga, ínsomnio, xaqueca, menopausia, transtornos de atencion e tamén dixestivos. ” Tinha um sarpulhido nas costas e nos brazos, um médico dixo que éra um eccema e o outro que tinha unha dermatítis., Habia inseguridade na sua voz, e certo gráu de indígnacion, levava cinco anos tratando de superar ésta doença. Ás veces temia tornar-se louco, custavalhe conciliar o sono, e o picor agravava-se precisamente pola noite. (Pregunteilhe se era unha dessas pessoas que sinten demasiado calor?). Seis semanas despois de ter tomado o “Sulphur”, o sarpulhido tinha desaparecido por completo e tamén dormia melhor. Ambos estávamos ímpresionados, ante estes resultados, custa a crer que éstas bolinhas tan pequenas poidan ter um efeito destes.
Publicado en Uncategorized
