A Ponte de Xil

oooooooooooooooooooooooooooooo

             A PONTE DE XIL

oooooooooooooooooooooooooooooo

PONTE DE XIL 3 IMG_3030

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

FELICÍSIMO GIRÁLDEZ GIRÁLDEZ

           Un home que vivíu con verdadeira resignacion, dado un parálisis que sufriu. Mantivose toda a sua vida nun carriño de rodas. Daquela non habia medios de comunicacion, el  conformouse durante 60 anos con recibir os informes das suas familias cando viñan á misa ou ó rosário. Empartiu o ensino ós rapazes do Bairro. Un verdadeiro entusiasta pola festa da terra, especialmente, polas puxas da Virxen das Angustias, e tamen administrava as contas do Cristo da Ponte de xil. Era un excelente peluquero conservando durante moitos anos unha certa clientela. Ultimamente xa tiña o seu aparato de radio. Estaba subscrito ó Faro de Vigo, en fin, era toda unha fonte de informacion. Finou no lugar de Forquelos, Pontexil en Outubro de 1983. Descanse en Paz.

J.G.Sebastián
(Xosé da Casquilla)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

  O SERÁN NA PONTE DE XÍL

             Este conto ouvira-o eu da boca de José Luís, na sua casa da Ponte de Xíl. Vinheram uns fulanos ó serán, que se puxéron a mexar diante das raparigas, Clemênte que era do Clán dos Charlós, e tinha trabalhado em Lisboa, na taberna da calçada dos Cabaleiros, non tendo família comprara o eido de Pedro. Ó ver semelhante despropósito, entrou em cólera, e empunhando viríl estadulho, malhou naquéles zacánas quanto quixo.  Na semana seguinte, os filhos da P. voltaron, mas désta vez chegaron armados em párvos, com unha pistola, que escondéron num buraco do valado. Despois de armar liorta, correron a buscar o trabuco, e nono encontrando, entráron em pânico e alumbraron como centelhas, batendo c’os pés no rabo, non tornando nunca mais.

A Irmandade Circular

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

ILHA (1)

Abrir este espaço, nao é mais que aproveitar a oportunidade de procurar a autosuficiência no mundo da comunicaçao. Nao está na raíz desta ideia competir; afirmar ou propagandear questoes egoístas ou satisfazer vísceras inconfessáveis. Os Humanos comunicámos; mostrámos; damos e recebemos. Nasce para que sexa eido de todo tipo de pessoas; de todo tipo de ideias de Liberdade… Nao só eu serei o escritor de serviço; toda e qualquer pessoa que sinta desejo e vontade de escreber ou inserir um texto; um poema; uma emoçao ou um queixume, tem aquí uma janela para comunicar com esta parte do Mundo. Procurarei que sexa abranxente na questao temática, além das crónicas diárias, também se editarao diferentes tipos de expressoes artísticas ou de pensamento. Tentarei incluir um género de “CONVERSAS COM…”, que consistirá, como o próprio título diz em conversas para ser publicadas com diferentes tipos de pessoas e sobre diferentes campos da expressao Política; Pensamento ou Arte. É óbvio que nao esquecerei a rua; nao esquecerei as pulsoes sociais que percorrem o mundo nesta época de crise sistémica. Caminho; caminhamos; todos os caminhos levam à Liberdade. Sintam-se em casa.

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (2)

“Nasci. Como toda a xente, também nasci. Devo o meu nome à lenda da minha casa e à minha madrinha Maria Rosa Montero. Caía o mês de Fevereiro de 1951 quando experimentei o frío de viver, fora do interior da minha mae: Rosalia Montero. Nado no interior da Galiza profunda, onde a modernidade da Revoluçón Industrial ainda nao arribara, começei a crescer pensando que era natural beijar a mao ao padre-cura. Na lenda da minha casa, estaba a lenda da casa pobre, que se vê obrigada a virar-se para a emigraçao. Cuba e Brasil, viram chegar os dois filhos varoes de Luís Giraldez. Manuel e José, reunidos posteriormente no Brasil, arrecadarom a sua fortuna. Regresando ao seu Ponte de Xil querido. Depois do seu retorno, encostáram-se a Lisboa. O carrossel familiar começou, entón, a desfilar cara a esta cidade na procura de manter o herdado. Sao já geraçoes; sou já eu; sou já um producto familiar de Rosalia Montero e José Maria Montero Giraldez. Um producto dos meus avôs paternos e também, em menor medida, da minha avó materna. Producto também do meu tio-avô paterno José Maria, conhecido pelo Arrasta; um homem que levou o Cinema e a Fotografia a unha aldeia onde a electricidade ainda era um bem a conquistar para e por muitos. Fui crescendo depois de sentir o frio de viver. Encostei-me, também eu a Lisboa, onde o meu Pai tinha um bar na fadista Rua da Palma, vulgar casa de pasto, que fez moda. Fui parar, por recomendaçao de Luís Mello, um aventureiro e grande melómano, ao maravilhoso Colégio Valsassina. Posteriormente, arrecadarom-me para um colégio já inexistente, situado na mística e misteriosa cidade de Tomar. Nem num, nem noutro, me consagrei como estudante, ainda que o fosse a tempo inteiro. Continuei a crescer. Comecei a sentir o beijo das musas e a aventura da letra escríta, baixo reaçao psicanalítica. No meu imaginário sentou-se Tristan Tzará. Na fonte da minha sabedoria, apareceu um Conde russo, chamado Bakunine. Comecei a alargar. Percorri terras do outrora, Reino de Leao. Tive filhos; dois filhos altos; fortes; iguais e inteligentes: José Luís e Ricardo. Escrevi. Penetrei no universo Underground. Fiz um curso de Literatura e Cinema. Colaborei em jornais de aquém e além Minho. E, continuei a escrever. Enchi gavetas; perdi maletas e escreví sem escrever. Comecei, entao, a limpar o pó. Comecei entao a viagem. Este sou eu, ou o eu que sei de mim.”

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (4)

CONTOS DE UMA PRIMEIRA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA

O MEDO

Era primavera. Passeava com dois colegas pela zona do campo da Uniao de Tomar. Falávamos do que faríamos durante as férias. Estávamos felizes. Fumávamos os nossos cigarrinhos da praxe. Alargávamos os passos como quem pensa que desta forma alargaríamos o tempo em Liberdade. No entanto, ao fundo, como que saía de uma porta lateral do campo, vislumbramos o prefeito Pinto. Encaminhava-se na nossa direcçao. Os cigarros ardiam; o medo crescia. As nossas caras paralisaram a expressao de bem-estar. Algum de nós atirou o cigarro pelo ar e bateu impetuosamente na perna duma criança que brincava alegremente acompanhada da avó. Os restantes, entre eles, eu, ficámos com os cigarros atenazados. O nosso interior clamava aos céus para que a criança deixa-se de chorar. Mas, nao; cada vez chorava mais e a avó começou a chamar-nos pelos nomes próprios dos habitantes do inferno. O temível prefeito Pinto estava cada vez mais próximo. O cheiro a castigo era mais forte que o cheiro a tabaco. Olhamos uns para os outros. Inqueríamo-nos com os olhos e as ondas emocionais. Como se um raio cintilante cheio de ideias e soluçóns nos abraçasse, saímos a correr a sete pés em direcçón à ponte. Ouvimos unha voz tremebunda que nos chamava e dizia: venham cá !!!! Sei quem vocês saooo !! !! !! !! !! O eco daquelas palabras paralisou-nos os ouvidos e cada vez corremos mais. Paramos no largo da Estaçao. Matamos o tempo a inventar desculpas. Um de nós, com os olhos esbagaçados, exclamou: DIZEMOS QUE ESTÁVAMOS APOSTAR O LANCHE !!!!!!!! Eu -meio derrotado- respondi: boa! Como máximo o castigo é uma semana de estudos da meia-noite… Regressamos ao Colégio. O prefeito Pinto non apareceu. Deitámo-nos inquiétos, mas, meio salvos. Chegou a segunda-feira. Pelas dez da manha, creio recordar, tínhamos um recreio de meia hora. O Pinto apareceu cheio de vigor justiceiro. Apanhou-nos no pátio interior onde fizemos um campeonato de luta. Apurou o passo de tal forma que tememos unha trovoada de estalos. Levantou a mao para o colega que tinha à minha direita, mas ouviu-se unha voz forte, pesada, seca, medida a chamar pelo terror das fugas. O meu colega, encolhido, esperava o impacto. O Pinto olhou e travou o braço. Respondeu: sim, Senhor Doutor… Era o Dr. Raul Lopes que o reclamava. O Pinto deu meia volta e partiu. Nao queríamos acreditar em milagres. Pensamos que voltaria com toda a cavalaria. O tempo passou; o Pinto nao voltou.

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (5)

CONTOS DE UMA PRIMEIRA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA

O MOSTRENGO

Eram as festas de Maio. O colégio parecia que respirava liberdade. Um colega finalista dizia e dizia no cenário “sketches” que demoliam o dia-a-dia do colégio. A sala aplaudia com entusiasmo. Era o dia do nosso grito; era o dia da nossa vingança perante tanta e tanta barbárie e bifes de cabedal com arroz encharcado. Nesse dia, o herói non era um forcado, nem o que mais soco dava, nem o mais cruel com a colher de pau: era um “actor”. Repassou desde a falta de água quente às ironias daquela vida sem ironia. Era feliz; sentia-se bem porque naquele cenário dissera-se o que pensava e sentia e porque a vida naqueles dias era outra. Fomos à tourada. Parece-me que comemos melhor. Os prefeitos non chateavam muito (além do Pinto que andava a marrar atrás dos fugitivos). E fomos ao baile. Andei de um lado para o outro na companhia do Hélder Pataias, do Casquinha e de mais colegas. Éramos felizes. Mas, maldita a hora, lembrei-me de unha moça que me fazia corar e separei-me do grupo para tentar sentir o seu perfume durante um pé de dança. Sabia onde estava. Fui, rodeando, até onde se encontrava a moça. Era bonita; coradinha; loira; sorriso tímido. Faltava-me pouco para a poder convidar para dançar quando fez apariçón um dos grandes “sádicos” do colégio: o Dete-Dete. O homem que facia culto à força bruta; o homem que era capaz de desfazer um ponteiro nas costas de um adolescente de primeira idade. Aproximou-se acompanhado pelo Catarino; amigos desde os tempos de Coimbra. -Olha o Montero !!! Exclamou bamboleando e rindo para o seu amigo. Mostrava sinais de ter bebido bastante mais do que suportava. Estava bêbado. -Anda cá! Apontando-me com o dedo enquanto via para o Catarino. O Dete-Dete, além de bêbado, parecia que também podia ser normal. Engano meu… Virando-se para o Catarino e falando com a brutalidade da sua condiçón e da bebida e mais que bebida, meio exclamou: -Pá: este Montero é muito mau…. Fiquei lívido. Aquele cilindro físico com cabeça rapada, mais unha vez, impusera a sua brutalidade. Senti que me estragara a noite e as festas. O Catarino, rapidamente, pegou nele e levou-o para unha esquina enquanto lhe sussurrava: -Nao digas isso. Também é meu aluno. Fiquei parado. Demorei-me. Vi a moça a olhar-me de esguelha. Non tinha espírito para sentir o seu perfume. Dei meia volta e regressei ao grupo de amigos. Nunca dancei com ela.

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (6)

CONTOS DE UMA PRIMEIRA JUVENTUDE ENLUTADA

PREFÁCIO

Fui parar ao CNA mais por confusao que por outra coisa. Estava num excelente coléxio. Era uma quinta cheia de oliveiras; cheia de espaço; de campos; aberta; o limite era um pequeno muro que nao tinha um metro de altura, que separava da quinta vizinha, com pista de velocidade de atletismo e caixa de saltos; com o melhor ginásio de Portugal, onde ia -muitas vezes- treinar a equipa de voleibol do Técnico. Onde vi treinar a selecçao checoslovaca de voleibol quando veio a Portugal. Tinhamos excelentes professores. O coléxio procurava os melhores e pagava-lhes consoante o seu valor. O elenco de professores de ginástica assustava: Joaquim Grangé; Nuno Barros e Mário Begonha. Todos ex-atletas de alto nível. Non saia do ginásio. Pertencia à equipa de voleibol; pertencia ao grupo de ginástica de Mesa Alema -fui o membro mais jovem a pertencer ao grupo-, tínhamos técnicas de atletismo com o professor Mário Begonha. E foi neste colégio que tive por primeira vez notícias do CNA. Júlio César, meu colega e amigo, natural da Guiné-Bissau, estivera um ano interno no CNA. Saíra espavorido depois de um enfrentamento com um colega mais idoso. A mae veio para Lisboa e ele também. O refeitório era um espaço pulcro e a comida era boa. Os pavilhoes que albergavam as aulas eram espaçosos, novos e luminosos. Era um centro cuidado e tratado ao milimetro. O director do Liceu, naquela época, e depois, ao falecimento dos seus pais, foi uma figura muito influente no Ensino em Portugal. Faleceu repentinamente, há dois anos aproximadamente; chamava-se: Doutor Federico Valsassina; Matemático. Encontrava-me bem; gostava de ir ao colégio. Mas, a minha actividade física afogava a minha actividade tipicamente escolar; entao, a minha família, assessorou-se, maldita a hora, e foi aconselhada na direcçao de Tomar. A vantagem, disseram, residia no isolamento e portanto -forçosamente- teria maior concentraçáo no estudo… Em Tomar nao tive uma coisa, nem outra. Nao tive nada para além de amigos -mesmo que nunca mais os encontre- que estarao eternamente na minha memória e no meu coraçao.

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

PONTE DE XIL 4 IMG_3031

A PROBE DA TABERNA, FOI DEFINITIVAMENTE GLOBALIZADA

PONTE DE XIL 7 IMG_3032

O CAMINHO VELHO.

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (7)

CONTOS DE UMA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA (CAPÍTULO I)

A porta fechou-se nas minhas costas. Olhei em frente. Um muro mal-encarado enfeitado com arames farpados impunha-se sobre a correria dos internos. A primeira imagem do Colégio nao podia ser mais terrorífica. A minha primeira sentença nao poderia ser mais verdadeira: “estou lixado”. Passaram os dias e aprendi a queimar energias e sonhos a correr atrás de uma bola. Passaram os dias e soube que se podia ser prefeito mal sabendo ler. A vara mágica da sabedoria dos prefeitos chamava-se: estalada. Fui iniciando-me nos códigos com pausa e espanto. Talvez, o mais cruel era o infringido pelos próprios colegas ao abrigo da prática-tradiçao académica. Mas, quem permitia e alentava essa prática crua e estúpida nao só era mais cruel; era bastante mais animal. Aqueles jovens nao eram mais que o reflexo da burrice dos adultos. Hoje, essa forma de festejar a tradiçao chamar-se-ia: acosso escolar. Está condenado. A voz de abaixa a cabeça soava com domínio e humilhaçao. O bater da colher de pau (na cabeça, nem mais, nem menos…), era o castigo e o direito que um mequetrefe tinha sobre outro mequetrefe. Era a barbárie. A tradiçao obrigava o direito a ser selvagem com o teu semelhante. O valor humano como conceito nesta tradiçao é nulo. Nao se ensina a ninguém a receber o seu semelhante com práticas de submetimento. O valor, o humano é abrir-lhe os braços para que se sinta querido e bem recebido. Eram três meses de suplício. O choque da adaptaçao nao podia ser mais inumano. O trauma de sair á rua coroado era marcante. O Colégio nao merecia fechar pelo que fechou, mas, por estas e por outras merecia ser fechado e bem fechado. Os “ocupas” estenderam os pés sobre as carteiras para outros fins e nao para abolir, ao som da Liberdade do 25 de Abril, o horror pedagógico que reinava no CNA.

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

.

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

 

oooooooooooooooooooooooooooooo

PONTE DE XIL 8 IMG_3034

AS XAROUPAS, AS DE PEDRO.

PONTE DE XIL 10 IMG_3036

CASA DE MANUEL DA TABERNA.

PONTE DE XIL 12 IMG_3037

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

PONTE DE XIL 13 IMG_3038

CASAS DO ILHA.

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

.

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

PONTE DE XIL 20 IMG_3039

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

PONTE DE XIL 22 IMG_3041

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (8)

CONTOS DE UMA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTORIA CNA (CAPÍTULO SEGUNDO)

A excepçao como diz o filósofo espanhol Gustavo Bueno nao confirma a regra; rompe-a porque nos diz que nao existe tal regra. Por isso, os professores que me aportaram o que deve aportar um professor: sabedoria, nao rompem a regra da grande maioria que nao aportava mais que atitudes soberbas ou brutalidade, eram simplesmente diferentes naquele contexto interno e absolutamente normais no contexto externo ou sociedade da segunda metade dos anos 60 do século passado. Vejo para o passado com olhos de ver e nao com olhos de auto-engano ou adulaçao nao explicada e quando vexo, encontro-me com o Padre José Guilherme que para além de Deus ou do Diabo, sabia falar de muitas mais coisas e ensinava desde as pequenezes do dia-a-dia aos mais tenros valores sociais e existênciais. Continuo a ver e tropeço-me com o Dr. Nogueira que me transmitiu saber e gosto pela Literatura e o seu amplo contexto de expressao e germinaçao que passam pela sociologia dos costumes, pela Historia, pela filosofia, pelos psicologismos, pelos desejos, pela imaginaçao e pela rebeldia ou vida do próprio autor e a sua época.

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

PONTE DE XIL 25 IMG_3042

CASA DA AMBRÓSIA

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (9)

CONTOS DE UMA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA (CAPÍTULO 2 A)

No entanto, infelizmente, non tive só os dois professores anteriormente mencionados. Tive mais e entre os outros, existem três que sobrevoavam o cúmulo da brutalidade e também da inutilidade. O primeiro deles todos tinha de alcunha o nome do sátrapa que governava Portugal: Salazar. Era a sua viva imaxem. Era coronel e dizia a lenda que durante a libertaçao de Goa, Damao e Dio, pela sua gente legítima, os hindus, foram encontrá-lo, presa do pânico subido a unha árvore. Mas, ainda que tivesse tratamento de coronel só me leccionou Matemática no terceiro ano. Com este “ilustre matemático” tive um pequeno desentendimento, que me deu para ver o talante do Director Raul Lopez. Estava o ínclito professor com um colega no quadro à volta de um problema de conxuntos, quando o senhor Coronel Salazar se engana. O desentendimento estava a provocar trifulca, e este tipo de despesas sempre era o aluno que pagava. Apercebi-me do erro; no ano anterior, extra programa, o Dr. Catarino trabalhara bem connosco, esse tipo de questóns. Entao querendo ser justiceiro e simultâneamente dar uma boa cachaporra psicológica no militar, levantei-me e disse: quem está enganado é o Senhor Coronel… Armou-se “zum-zum” na sala. O colega que estava no estrado (um rapaz da Guiné-Bissau; era alto; forte e tinha, xá naquela idade, toques de alopecia. Como de tantos outros, ainda que retenha a cara, non recordo o nome.) respirou aliviado, porque os dardos do professor mudaram de alvo. Fui chamado ao estrado com autoridade e raiva. Fui intimado a resolver o problema e assim o fiz; o Coronel Salazar tentou desmentir-me. E, ao Zeca das bolinhas e das meninas, ontem e hoxe, tendo razao e sabendo, ninguém desmente. Pode desaparecer o mundo, mas, o Zequinha das garotas nao se cala quando tem argumentos. O processo dialéctico foi forte e, outro colega meteu também a pá no forno para aquecer. O Salazar rebentava de furor. Saíu-se, finalmente, pela tangente e disse: amanha quero os três aqui para resolver os seguintes problemas… Respondi: se me chama amanha por culpa disto; non lhe respondo. No dia seguinte ou na próxima aula, entrou o professor com a cara de sátrapa, e de imediato disse: Montero ao estrado. O tal, dito cujo Montero, que cresceu com leite de cabra, levantou-se e foi para o estrado. O coronel, mandou-me fazer o problema. Neguei-me. E voltei-me a negar. E, por se era pouca a música, continuei a negar-me. Os dous colegas atingidos na aula anterior também foram convidados pelo Salazar, para somar-se à dança do “Vira milho”… Negamo-nos. O Salazar (honra lhe sexa feita: nao nos tocou.) expulsou-nos da aula mas, fazendo alguma recomendaçao a alguém – talvez a um prefeito – e fomos encaminhados para o chefe dos prefeitos Curinha (o tal que a direcçao dos pós-CNA despromoveu e colocou como prefeito de sala, substituindo-o pelo prefeito mais áspero e menos querido do antigo CNA: o Pinto.) Narramos o caso. O Curinha, com ar sério, disse: vamos ao Douctor Raul Lopes.

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

PONTE DE XIL 3O IMG_3043

CASA DE VELHAS XENTES.

O ILHA (10)

A MINHA HISTÓRIA CNA

CAPÍTULO SEGUNDO (B)

O Curinha entrou e deu-lhe a versao do professor como lhe correspondia, mas, salvaguardou e mencionou a nossa versao. O Dr. Raul Lopes mandou-nos entrar; ficamos frente a frente com ele. Respirava-se mal. A figura pequena mas, ampla de ombros e formas do Dr. Raul Lopes impunha. Ouviu a nossa versao; a versao que lhe dei e que foi confirmada a coro pelos dois colegas. Mandou-nos sair. Ficamos à espera. Chegou, passado um tempo, o coronel com a alcunha de Salazar. Esteve reunido com o Director. Finalmente, fomos chamados. Entramos. O xá pestilento Salazar continuava com a sua versao. Entrei em discórdia com o nome que a maioria arrasadora dos portugueses nao quer recordar. O Dr. Raul, virando-se para mim, perguntou-me: como sabes os conxuntos? – O Dr. Catarino, o ano passado, no segundo ano, deu-nos tudo isso… O Dr. Raul ficou sério se é que xá non estava seríssimo. Olhou para o Salazar. O Salazar veio-se abaixo e reconheceu o seu erro. Mandou-nos embora e disse-nos que solucionaria o nosso caso, entretanto, non iriamos às aulas do Salazar. A fotografia do Sátrapa ficou dentro. Nao sei que falaram, non transcendeu nada. Quando a música virava ronca os alunos (por muito que se fabule agora…) nao sabíamos nada; nada e menos ainda outras coisas mais privadas ou íntimas. O dado real é o seguinte: no ano vindeiro o dito cujo coronel nao deu aulas no CNA, nem foi visto por perto… Aos alunos, aos três, separou-nos; eu dei, entao, com os ossos no tal 3ºA e os outros dois colegas foram cada um para uma turma diferente. Durante o acontecimento conheci o Dr. Raul Lopes. Nao era, nem foi um pedagogo, nem nada que se pareça a um pedagogo, mas, era das pessoas que tinha -talvez a que mais- sentido do arbítrio e da justiça no meio daquela selva rangente.

JOSÉ LUÍS MONTERO

 PONTE DE XIL 1 IMG_3028

VISTA DESDE VALINHO.

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (11)

CONTOS DE UMA JUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA (CAPÍTULO TERCEIRO)

Vejo-me e observo que as minhas referências sobre os professores nao vao além do 4º ano. O quinto ano, nesse aspecto, é um ano que nao existe. No entanto, durante o 5º ano tive aulas com o Dr. Raul Lopes e também com o seu amigo que leccionava Português. Mas, nada ficou além das suas figuras. O Dr. Raul Lopes, ao ser o Director do Colégio, era um homem cheio de lendas que iam desde a sua etapa de Coimbra como estudante até aos últimos dias. A sua figura sempre era situada no epicentro da lenda. Devo dizer que além das reunioes onde estava a minha família a interessar-se pela minha evoluçao, pouco contacto tive com ele. A minha memória só me fala de mais duas reunioes onde, frente a frente, estava a figura do Director e a figura do aluno. No entanto, os primeiros anos foram férteis em figuras para unha boa comédia de rua. Talvez, ao som dos tempos, tivéssemos “hapennings” sem nos aperceber de nada. Talvez, se deva, também, ao choque brutal que tive com aquela realidade “sue generis”. Evidentemente, o Coronel Alvarenga (graduaçao que foi rebaixada por um colega, mas, ao reter na minha memória esse tratamento non será agora que o transformarei em soldado raso, sargento ou major.) ocupa muitas das cenas imortais daquele Colégio. Além do anedótico e do humor que provocava a sua aselhice pouco se pode dizer deste professor. Como síntese posso dizer que era um mal-educado e um violento; o tratamento de “ò Minha Besta” que lhe dedicava aos alunos fala por si. Logicamente, tomávamos a devida e merecida vingança. Tinhamos como nossa principal aliáda a aselhice que o caracterizava. E também tinhamos a neurose típica de quem vive entre muros para passar-nos quatro limites nessa vingança. Nos, os alunos, nao sei se numa aula do 3º ou 4º ano, também agimos violentamente. Um belo dia, pretendeu zurrar num colega que estava perto de mim. Como que atraídos por um íman, levantamo-nos os próximos. Rodeamos com os nossos braços o professor e ao grito de “nao lhe bata; nao lhe bata…” Tínhamos o pobre homem imobilizado. Nisto, chegou do fundo da sala um colega de Moçambique; natural de Maputo; de nome José Luís e de apelido, creio recordar, Rodrigues – era um rapaz espigado; seco de carnes; rápido de movimentos; inteligente. – Que se uniu ao abraço inibidor, mas, somou ao acto, umas lindas e mais que lindas pisadelas, fortes e bem fortes, no velho militar. O coronel Alvarenga berrava; nós, apercebendo-nos do facto, ainda mais gritávamos: “Nao lhe bata, nao lhe bata.” Este homem de idade avançada, esteve retido ao mesmo tempo que era agredido uns bons minutos… Um par de anos antes e depois, ser-me-ia impossível imaginar-me metido numa trifurca, violenta contra um professor. Este acto nao é do meu agrado, quando o recordo porque me apercebo que naquela altura e com aquel tempo de estância no CNA, xá estava num grau alto de animalizaçón. Perdera as maneiras. Era mais um que louvava o cajado como elemento dialéctico. Para esquecer; para superar…

JOSÉ LUÍS MONTERO MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (12)

CONTOS DE UNHA XUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA (CAPÍTULO 4)

Nao sei como seria classificado hoje este professor, mas, calculo. Sei que nao daria aulas a nao ser que existisse alguma escola num buraco escondido da montanha mais montanha imaginada. Sei que todos sabem de quem falo sem o ter mencionado: Dete-Dete. Professor de inglês; açoriano e herói de Coimbra. É um professor indiscritível e fartamente adjectivável. Cruel chicoteador. Insensível à dor de uma criança. Em si era uma figura bizarra; cilíndrico. Tinha a poupa espigada que lhe emprestava um ar avesso. O professor mais detestável que conheci. Nao me recordo o motivo que gerou a nossa mútua aversao. No entanto, sei que uma semana depois de ter aulas com ele já sentia aversao. Penso que nunca me tocou. Mas, vi-o tocar e retocar a cara e o corpo de mais de um colega. E nao era um estalo, nao … Eram estalos; eram pauladas; era violência extrema. Era violência psicológica. Se a ancestral Universidade de Coimbra produzia este tipo de professores, Coimbra como Universidade, viveu uma época de interregno. Se lhe conto aos meus filhos ou a um jovem desta época como era este professor, perguntar-me-á: -Que bebeste ao almoço?.. Responder-lhe-ei: Nada; entao, o jovem rir-se-á de mim. Se por ventura é um jovem espanhol que sabe que estudei em escolas privadas; dir-me-á: “y tus padres te mandarom a un colégio de pago para que te dieran mamporros?..” Felizmente, hoxe, já nao existe este tipo de professor. Vamos melhorando.

JOSÉ LUÍS MONTERO

0 ILHA (13) (CONTOS DE UNHA XUVENTUDE ENLUTADA)

A MINHA HISTÓRIA CNA. (CAPÍTULO 5)

Existia um professor baixinho; cara risonha que via todos os dias no corredor, mais ou menos na galhofa com os alunos que conhecia. Parece-me que se tratava do Dr. Alves ou “pica-pau”. Este homem faleceu. Estávamos às portas das festas. A Direcçao do Colégio decretou unha espécie de luto onde a “praxe” ficava suspensa e as famosas fugas ficavam prohibidas. Um tal “comité da praxe”, em princípio, negou-se. Deram uma espécie de consultas boca-a-boca e os alunos-veteranos estávamos decididos a dizer: Nao; pretendíamos manter a ditosa tradiçao. Tudo estava encaminhado para a rebeldia, quando o ditoso “comité da Praxe”, cede e aceita as directrizes institucionais. No entanto, um grupo de onze alunos, resolve manter a tradiçao e continuou com os preparativos da sua fuga. Tornava-se mais difícil e seria importante nao ser apanhado. Teríamos que desaparecer durante a noite e como mandavam as regras, depois da meia-noite. Teríamos que saltar do quarto para a rua e desaparecer da cidade antes que o Sol nascesse. Estávamos no andar do Manuel Faia. Até ao tecto do que creio recordar que era a enfermaria ou alguma dependência logística que estava por alí, havia dois andares. Arranjamos uns cordeis relativamente fortes e demo-nos ao trabalho de os unir. Non pensamos nos nós, ou pensamos, mas, non tivemos em conta o efeito dos nós nas nossas máos. Passada a meia-noite os onze predestinados reunimo-nos no meu quarto. O meu quarto fugiu em pleno, menos, o necessário colaborador, que ficava para aguentar a cama e desatar a corda e manda-la pela janela fora. Adianto, desta fuga, três nomes; dos outros nomes … nao me lembro; pode ser que um dia nos xuntemos aqui ou numa almoçarada e venham à luz do dia; um era eu; outro era o Hélder F. e o outro era o homem para tudo: J. Manuel L. Sousa. Passada a meia-noite, desparafusamos a janela; atamos o cordel-corda a uma cama e toca para o telhado daquele andar rasteirinho. Eu e vários dos aventureiros quando chegamos aquele telhado, tinhamos as gemas dos dedos destroçadas pelos nós do cordel-corda. Era difícil agarrar bem e chegamos ao telhadinho resvalando e as maos padeceram seriamente a acçao. Desse rés-do-chao chegamos à rua, deslizando-nos pelos canos que escoavam a água da chuva. Com os pés já bem assentes na estrada, começou entao, o correr sigiloso caminho da estaçao para apanhar o primeiro comboio para Torres Novas. Lá fomos olhando ou sem olhar, para as nossas ferídas maos. Apanhamos o comboio muito cedo e ficamos muito felizes, porque o frio estava a fazer das suas nas feridas. Chegamos a Torres Novas e como estava programado, fomos rio acima para estar bem protegidos das intençoes malévolas do caça-fugitivos Pinto. Caminhamos. Depois de andar um bocado encontramos uma casa-bar à beira-rio, que tinha conservas e outras coisas para abastecer os pescadores. Juntamos os trocos e compramos as conservas que queríamos e penso que mais alguma coisa como pao. Quando chegou a hora do almoço montamos o nosso “pic-nic”. As sardinhas em tomate que comi, souberam-me a glória. Ainda hoje recordo a satisfaçao que senti. Foi-se fazendo noite e fomos regressando, cautelosamente, a Torres Novas para regressar e entrar no Colégio antes das aulas, para isso, teríamos que estar aptos para enfiarmo-nos entre os alunos externos. Dormimos aquela noite num descampado onde havia carros meio abandonados. Eu dormi num “Citroen”. Pela manhazinha já chegamos a Tomar e, pé ante pé, fomos aproximando-nos da porta traseira, por onde entravam os alunos externos. Entramos. Sentimos como o Pinto chuchara o dedo. As feridas doíam. Mal entrei, num corredor o calor parece que beijou as minhas feridas e sentí-me aliviado. Mas, eilaí-eilaó !!!! Finalmente, estávamos debaixo de olho…. Fomos direitinhos para o escritório do Doutor Raul Lopes. A táctica consistia em dizer que nao sabíamos nada da suspensao da praxe. O Doutor Raul, semblante sério, estava com ar de quem, puxaria da vara mágica e a Terra tremeria. CAIU CASTIGO !!!!!!!!! Mas, a “minha memória selectiva”, non me sabe dizer bem a totalidade do castigo. Uma semana de estudos de meia-noite, caíu com toda a certeza, certezinha; um fim-de-semana sem sair, também caíu. No entanto, creio que foi desta feita, que fúi (fomos) parar a um quarto-cela. Recordo-me, sentado no chao numa sala isolada, portanto, também deve ter caído “isolamento”. Nao recordo outra ocasiao onde o castigo possível fosse: “estar de cana”. Hoje, vendo-me e revendo-me, sinto-me satisfeito por ter desobedecido, tanto à instituiçao como ao tal comité da praxe.

JOSÉ LUÍS MONTERO MONTERO

O ILHA (14)

CONTOS DE UNHA XUVENTUDE ENLUTADA

A MINHA HISTÓRIA CNA (CAPÍTULO 6)

Finalmente, um dia, acordei em Lisboa sem ter que regressar ao CNA. Andava e nao andava. Saia de casa pela manhá e percorria a Praça do Rossio; sentia-me como se tivesse recuperado o paraíso. Comecei a fazer o que queria e desejava; comecei a arquitectar a minha vida. O temor que estava entranhado na vida tomarense, transformara-se em alegría e espírito de curiosidade plena. Comecei a comprar libros como quem compra tremoços numa feira: em saco e a peso. O cinema nao vivia sem mim. Nao passaram três meses e xá tinha a minha tertúlia instalada no Café Ribatejano. Chegaram as primeiras visitas e exposiçoes; chegou o Teatro. Chegaram os passeios em barco e em grupo a Cacilhas para beber unhas imperiais bem frescas. Nao conhecia o tédio. Foi das épocas que mais felicidade senti. O CNA estava embrulhado e guardado na prateleira da parte mais escura da minha livraria. Passei a páxina sem nenhuma classe de cerimónia. Unicamente, notava a ausência dos colegas e amigos mais próximos. Gostar-me-ia tê-los como partícipes do meu novo estar e ser na vida. Non sei se escrevi alguma vez ao Hélder F. Tive um processo de esquecimento acelerado. Passados poucos anos, quando o Victor O. se uniu, a diário, à tertúlia do Café Ribatejano, nao recordava muitas das cousas que alguma vez, esporadicamente, me mencionava. No inverno, em Dezembro, fui visitado pelo Casquinha. Senti alegria plena; fomos, quao gabarolas arvorados em machos, ao Intendente. Falamos; non deixamos de falar um segundo. Só respiramos um bocado quando sentados no bar, a beber unha cerveja, fomos abordados por duas donzelas. Ele falava-me da sua vida em Coimbra, e eu falava-lhe da minha vida em Lisboa. Ficamos de encontrar-nos. Nunca mais nos encontramos ainda que durante dois anos sabíamos um do outro e mandávamos mensagens através de um amigo comum. Cinco ou seis anos depois de sair do CNA tive como um processo de introspecçón e passei a pente fino a essência da minha vida em Tomar. Conclui que non fora tempo perdido, porque o tempo non se perde, vive-se, mas, pensei que vivi coisas e situaçoes evitáveis e desnecessárias (inclusivamente nefastas) para a minha formaçao como ser humano. Passados uns dez anos conheci um homem que vivia no castelo de Sesimbra (segundo estou informado, no castelo, fizeram uma espécie de museo ou exposiçao permanente em sua honra) chamáva-se Rafael Monteiro. Falamos do humano e do divino. Era um discípulo do mestre Agostinho da Silva (de quem me deu o número de telefone e escreveu uma cartinha para ser recebido) e amigo do António Telmo e seu grupo. Neste grupo de amigos e cúmplices estava um ex-aluno do CNA. Entao, veio á baila o colégio e a certa altura o Rafael Monteiro disse: “é um rapaz inteligente e culto, mas, tem alguma coisa inexplicável dentro. Parece-me que tu também tens um certo pouso dentro semelhante ao dele.” Nao o sabia explicar. Eu também nao o soube explicar. Hoje, ainda que nao o saiba explicar, parece-me que é uma pequena (ou grande) dor (a palabra exacta talvez seja mágoa) neurótica que levamos aninhada nas nossas vísceras. O CNA foi parte da minha vida, mas, nao é a minha vida. Thomar, com agá como gosto de escrever por uma questao mais que estéctica, é a minha terra adoptiva. E as Terras, visitam-se com carinho e periodicamente. Thomar aturar-me-á enquanto viva.

JOSÉ LUÍS MONTERO

 

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (ARTIGOS) (1)

O furúnculo enrevesou-se e está muito infetado. Nao querem mostrar as nádegas à enfermeira. A infeçao propaga-se. A dor pede morfina. A morfina é a roda penosa da morte anunciada. O PSD vive nas ruas da amargura. Conspiram nas suas entranhas à procura de um novo Messias. O nome de Relvas, homem faz tudo e que olha com olhos de impor, já passou nos Mídias ao som da simpatia com uma ou outra personalidade. Passos Coelho está nu. Estamos em Fevereiro e Março e o frio ainda obriga ao uso de meias de la. Na Res pública nao há atitude mais suicida que a do galo que nao sabe cantar e acordar a vizinhança. Um galo que nem sequer canta, acaba no tacho, antes do dia da boda. O PSD nao sabe cantar; nao tem discurso, nem encontrar pretextos sólidos para tentar, dentro da sua incultura manifesta, alinhar vários parágrafos de oratória. Vivemos em crise e na crise e a Geringonça soma argumentos-demagogias políticas que a fazem ascender nas espectativas dos votantes. O PSD afoga-se só tem a cabeça à superfície. Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se o Presidente dos afetos e das iniciativas. Almoça em casa de… Abraça a Maria Rosa… Bebe com a tia Joaquina. E diz que o seu lugar nao é um concurso de popularidade… Claro, é a popularidade em si e para si. O PSD nao tem padrinho salvador, nem cabra ou cabrao velho, para fazer uma boa chanfana.

JOSÉ LUÍS MONTERO MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (ARTIGO 2)

O ILHA (ARTÍGO Nº 3) (PASSOS COELHO VIROU EXTRATERRESTRE)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (ARTIGO Nº 4)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

IMG_0166

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (CONTO 1)

O CONTO DA VERDADE

O dominó nao era o seu jogo. O barulho dos xogadores menos; era irritante. Josué, depois de ler os xornais, fuxia do Café a sete pés. O seu tempo ou tinha valor ou ocupaçón. A sua paciência non era gasta no meio dos mortos-vivos. Sentia-se cansado e nao encontrava forma de reconduzir a situaçón. A filha ultrapassara os vinte anos e estava perto de acabar Direito, mas nao albergava esperanças de colocaçao. Nao era filha de Advogados e nao tinha padrinhos no Restelo ou em Alvalade. Infelizmente, os tempos da outra senhora continuavam a dominar as colocaçoes. O vinticinco de Abril jazia no charco do lodo e no miradouro das cunhas. Alguns Capitaes de Abril apareciam nos jornais a maldizer o Governo, mas a sua estética pançuda, a sua falacrose e esse sotáque saudosista e heroico, desanimava à primeira vista. Josué nao era dado a suicídios; no entanto, no rumor que invadia as conversas miudinhas no trabalho ou no Café sempre aparecia um morto voluntário. Josué emudecia. Perdia-se no tempo e no espaço e parecia que estacionava numa ponte de vidro, onde via o precipício com toda a sua grandeza e profundidade. Sentia que o suicídio era unha aventura intensa, tanto no tempo como nas sensaçóes. Depois de esse vaguear, virava-se para alguma actividade intensa e frenética. Uma manha, enquanto classificava os seus trabalhos de contabilista no escritório, o telefone tocou com estridência. Era a filha; A Jacinta, contra todo o costume, reclamava um encontro urgente. A Pastelaria dos pratinhos ao balcao, perto do Saldanha serviu de espaço familiar. Sentados numa mesa da esquina, falaram com alguma gestualidade. A cara do Josué ganhou rasgos cadavéricos. Jacinta, entre uma expressao tensa e um olhar de clemência, parecia ter uma decisao forte mais que tomada. Pai: esta sociedade nao tem moral; nao me obrigues a mal viver por manter uma moral que nao existe… Estas palavras finais ribombaram nos ouvidos e no coraçao de Josué como bombas a tropel. Jacinta tinha uma proposta de trabalho sobre a mesa. Um famoso escritório de Advogados de Lisboa oferecia-lhe emprego. Viajaria por todo o Mundo. Ganharia dez mil euros mensais. O seu trabalho consistiria em acompanhar homens das finanças, empresas ou mesmo políticos e grandes xornalistas nas suas deslocaçoes ao estrangeiro. Deveria fazer tudo ao seu alcance para que se sentiram felizes. Josué abandonou a mesa sem articular palavra. Perdeu-se entre a multidao, caminho do Marquês de Pombal, Jacinta viu-o partir e deixou cair alguma lágrima. As nove da noite quando se sentaram à mesa para xantar manteve-se calada. Josué depois de comer a sopa de legumes do costume, começou a falar do seu tempo de estudante e das suas idas e vindas aos bailes do Grupo Desportivo da Mouraria. Quando se levantaram, Jacinto aproximou-se ao ouvido da filha. Segredou. -Gere a tua vida; eu estarei preso pelo coraçao em qualquer dos casos…

JOSÉ LUÍS MONTERO (11/06/2013)

O ILHA (O CONTO DO ESPIA) (2)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (O CONTO DO PALERMA)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (ARTÍGO Nº 5)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (ARTIGO Nº 10)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (EXERTO DO CONTO EXTREMADAMENTE POÉTICO)

O ILHA (A MORTE DO MÁRETAS)

O ILHA (SERMAO, SÍNTESE E SINOPSE DO SURREALISMO SALOIO)

O ILHA (NOTICIAS BLASFEMAS DO SURREALISMO SALOIO)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

IMG_0164

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

.POESÍA

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O DRAMA DO PALÁCIO DOS FUMOS

Estamos cansados de fumar.

Contemplamos como a vida se desfaz,

como o fumo que enviamos para o ar depois de beijar profundamente o cigarro.

Vivemos com problemas próprios e alheios.

Fumamos;

queimamos constantemente alguma coisa

quer por vontade própria ou pela vontade do governo de turno

que dizendo que nos está a salvar,

nos empurra mais um bocadinho para a cova.

JOSÉ LUÍS MONTERO

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O ILHA (POESÍA DE ENXERGA – TEXTO POÉTICO)

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

IMG_0165

O ILHA (A MÁ DIGESTAO)

IMG_0163

oooooooooooooooooooooooooooooo

                    VALINHO

oooooooooooooooooooooooooooooo

VALINHO UM IMG_3025

CENTRO URBIS.

VALINHO DOUS IMG_3026

RUINAS DE CASA VELHA.

VALINHO TRES IMG_3027

NOVAS CASAS, XENTES INCÓGNITAS.

OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

                        FIM

Deixar un comentario