Arquivos diarios: 18/08/2021

HUSSERL (A ABSTENÇÓN FILOSÓFICA)

Agora que começámos a conhecer quem foi o filósofo Husserl, talvez interesse também ao leitor saber um pouco mais sobre a sua personalidade histórica e sobre a sua alma. A história de Husserl é sóbria. A data do seu nascimento é oito de Abril de 1859, em Prostejov, Morávia, entón parte do Império Austríaco. Durante várias xeraçóns, os xudeus Husserl estiveram radicados naquele lugar. Um amigo israelita e filósofo, pouco apreciador de Husserl, dixo-me unha vez que nele apenas via de xudeu a paixón, embora neste caso dedicada non à relixión ou à política, mas ao conhecimento. Ignoraba até que ponto o próprio Husserl vinculaba, nos seus apontamentos privados e nas suas cartas, estas facetas da existência dignamente apaixonada. Por outro lado, quem assistia às suas morosíssimas liçóns sobre a percepçón das cousas, o xuízo, a empatia ou a consciência do tempo, mudaba com muita frequência as suas posiçóns confessionais. Husserl dizia que isso o surpreendia, porque, na sua opinión, non tocava em nenhuma matéria que se pudesse relacionar directamente com essas tormentas espirituais, mas o facto é que unha xudia se tornava cristán, um protestante se declarava católico, um agnóstico deixava de o ser e um relixioso perdia a inxenuidade da sua crença. No entanto, non era a abstençón filosófica um movimento da alma mais profundo que unha mera mudança de grupo confessional? Quando Edmund Gustav Albrecht Husserl nasceu, o xudaísmo familiar estaba, efectivamente, muito dissipado. O seu pai, Abraham Adolf, possuía um próspero comércio de tecidos, e Edmund era o segundo dos seus quatro filhos. Non tinha grandes problemas para lhes proporcionar unha educaçón de qualidade, visando a perduraçón do negócio. De modo que Edmund, apesar de non ter interesse polos ensinamentos escolares (adormecia nas aulas de maneira bastante escandalosa) fixo os seus estudos secundários lonxe da casa: primeiro em Viena e depois em Olomouc, na actual República Checa, mas no “Gymnasium” alemán. Era grande leitor e só avançava muito, como alumno, em matemática. De facto, descobríu ainda muito novo um erro num aparelho óptico de precisón da marca Carl Zeiss, que quixo, por essa razón, conceder-lhe unha bolsa e dar-lhe emprego. Husserl preferíu estudar astronomia na Universidade de Leipzig. Naqueles tempos felizes, ninguém sabía muito bem que “curso” faziam os estudantes. Matriculavam-se no que a sua sede intelectual lhes dictava e, aos poucos, a satisfaçón relactiva desta sede ia delimitando o campo de interesses para a investigaçón ou para a carreira de professor. Cumpridos certos requisitos muito libres, que os universitários reuniam peregrinando polos países onde a fala comum lhes permitia prosseguir na sua personalíssima vocaçón, obtinham os seus graus em duras provas (o exame “Rigorosum” da sua tese e a sua dissertaçón de doutoramento, como máximo exemplo).

MIGUEL GARCÍA-BARÓ