Arquivos diarios: 09/12/2020

JACQUES DERRIDA (DESCONSTRUÇÓN)

Costuma dizer-se que a partir de “Glas” a sua obra torna-se mais literária, por vezes explicitamente autobiográfica. O certo é que a partir de entón sucede unha inflexón notábel, em grande parte debido precisamente à recepçón da sua obra. O leque dos seus leitores é muito alargado, universitários de países muito diferentes, mas também literatos e críticos, artistas ou arquitectos. Em consequência, sucedem-se os convites para participar em sessóns de trabalho de âmbitos, em princípio afastados da filosofia, mas interessados em ouvir o que a desconstruçón pode fazer com este ou aquele problema que lhes diz respeito. Por outro lado, para Derrida, pensar que a sua reflexón pode ter utilidade num contexto em princípio tán afastado, transforma o convite em algo semelhante a um desafio. A primeira pergunta é enton: para que pode contribuir a desconstruçón neste contexto? De que modo axuda a remover as oposiçóns e as hierarquias que bloqueiam, que atrapalham o problema que se coloca? Sexa para dar resposta à situaçón histórico-política, ou de compromissos culturais, académicos ou editoriais, ao longo de toda a carreira as suas intervençóns iriam entrecruzar-se intimamente com a dinâmica da sua própria obra. Na maioria dos casos, a sua participaçón consistirá em proceder à descontruçón de um ou vários textos que contenham apreciaçóns relevantes sobre o tema comprometido: um trabalho delicado, carregado de matizes, de ir mostrando a base instábel sobre a qual assentam os antagonismos. E Derrida revela-se um mêstre em levantar cadências inesperadas no texto que lê, toda a dança das diferenças que permaneciam encurraladas no xogo das oposiçóns. Nas suas liçóns nos Estados Unidos, os exercícios de descontruçón que levava a cabo equipararam-se frequentemente a “performances”. Entre os textos que se seguiram a “Glas”, há três que se destacam especialmente, tanto pola grande difusón atinxida como por serem dedicados a Nietzsche (Esporas: Os Estilos de Nietzsche, 1978), a Freud (O Cartón-postal: de Sócrates a Freud e Além, 1980) e a Marx (Espectros de Marx: o Estado da Dívida, o Trabalho do Luto e a Nova Internacional, 1993), cumprindo assim a sua quota na trindade dos “filósofos da suspeita” quota que têm enfrentado igualmente, de unha maneira ou outra, todos os pensadores franceses abarcados pola “French Theory”.

MIGUEL MOREY