Arquivos diarios: 07/12/2020

FOUCAULT (ALI A LOUCURA, AQUI A DOENÇA)

Dous anos mais tarde, em 1963, publicará um texto que, em mais de um sentido, é um prolongamento da sua “História da Loucura”. Trata-se de “O Nascimento da Clínica” (Naissance de la Clinique), cuxo subtítulo é “Unha Arqueoloxia do Olhar Médico” (Une Archéologie du Regard Médical). Na sua materialidade mais elementar, prossegue o seu texto anterior pola base documental sobre a qual se ergue, que também provém das suas pesquisas na “Carolina Rediviva”; e assim o qualificou Foucault eventualmente, a brincar, de material excedente. Mais sériamente, pode afirmar-se tal cousa na medida em que ambos têm como finalidade analisar as condiçóns sob as quais se pode constituir um obxecto de conhecimento científico, ali a loucura, aqui a doença. As diferenças, porém, som evidentes e três merecem ser destacadas. Em primeiro lugar, unha deslocaçón estilística: se em História da Loucura a terminoloxia e o tom da análise parecem ainda próximos das maneiras que a fenomenoloxia estabeleceu, aqui aproxima-se do vocabulário estructuralista. Em segundo lugar, a cronoloxia: o seu estudo sobre a loucura decorre desde a Idade Média para concluir o seu percurso histórico em 1830, quando a mutaçón imposta pola “medicalizaçón” da loucura como “doença mental” (mutaçón que emblemáticamente se resume no xesto de Ph. Pinel, a libertaçón dos acorrentados do asilo de Bicêtre e a sua transferência para um espaço de cuidados médicos) se dá definitivamente por estabelecida. Agora, o seu texto sobre o olhar médico segue de perto a alvorada imediáta e as primeiras consequências da mutaçón correspondente, de 1780 a 1830, apenas cinquenta anos. E, em terceiro lugar, pola forma como na sua análise das condiçóns de possibilidade que sustentaram a mutaçón som destacadas e aperfeiçoadas as inter-relaçóns entre a ordem dos discursos e o espaço das instituiçóns. Se em História da Loucura se deixava entrever o papel desempenhado pola evoluçón paralela e independente das formas da instituiçón e os modos do discurso, agora este movimento será explícito e detalhadamente descrito, Atender-se-á assim às modificaçóns no espaço do visíbel (as novas disposiçóns hospitalares que permitiram outro tipo de observaçón da doença), e no “espaço do dizível” (as novas condiçóns de enunciaçón que a medicina está a alcançar em virtude do desenvolvimento dos discursos científicos), e serám analisadas consequentemente a “evoluçón independente” de ambos os domínios (discursivo e non discursivo ou pré-discursivo), as suas converxências e diverxências e a sua confluência final nunha compreensón “clínica” da doença. Finalmente, cabe destacar o parentesco que de novo se sublinha entre unha experiência lírica que procurou a sua linguaxem na literatura, de Hölderlin a Rilke, e a experiência médica que conquista o seu horizonte moderno integrando a morte no seu espaço de análise: momento do qual será emblemático o “xesto” de Bichat, que afirmaba: “Poderiam tomar nota durante vinte e cinco anos, de manhá à noite, no leito dos doentes… e tudo non será senon confusón… Abram alguns cadáveres: verán desaparecer em seguida a escuridón que apenas a observaçón non conseguira dissipar”. Assim, escrebe Foucault: “De unha forma que pode parecer estranha à primeira vista, o movimento que sustenta o lirismo no século XIX é o mesmo que permitiu que o home tenha um conhecimento positivo de si mesmo; poderá surpreender-nos que as figuras do saber e as da linguaxem obedeçam à mesma lei profunda e que a irrupçón da finitude sobrevoe, da mesma forma, esta relaçón do home com a morte que, aqui, autoriza um discurso científico sob unha forma racional e lá abre a fonte de unha linguaxem que se desdobra indefinidamente no vazio deixado pola ausência dos deuses?”

MIGUEL MOREY