KANT (VIDA PRIVADA)

Passamos agora à vida privada, que, como xá dissemos, non daría propriamente para um musical. O professor Kant era um home metódico nas suas costûmes, precisas como a tecnoloxía alemán, ao extremo de se poder reconstruir minuciosamente a disciplinada xornada da sua maturidade, invariábel dia após dia, semana após semana, ano após ano. O seu criádo tinha ordens para acordá-lo às cinco; passaba a primeira hora a pensar no trabalho do dia, enquanto tomaba chá e fumaba cachimbo, e a seguir preparaba as aulas do dia, que segundo a época do ano começabam às sete ou às oito horas, e o mantinham ocupado até às nove ou às dez. Depois, escrebia até à unha, altura em que fazia a sua única refeiçón diária. Non era o almoço lixeiro de um refeitório monástico, antes consistia em bons pratos e bom vinho. As refeiçóns eram o momento ideal para satisfazer a necessidade de sociabilidade e Kant tinha sempre convidados à mesa com quem gostaba de debater durante várias horas sobre os mais variados assuntos (embora nunca sobre filosofia) e rir. Non se debatiam questóns polémicas e os ânimos nunca se exaltabam, mas, como a tantos filósofos, irritába-o que o contradigam, sobre tudo quando se trataba de algo em que tinha meditado bem e sobre o qual se consideraba mais qualificado do que o seu opositor. Um dos seus temas de conversa predilectos era a xeografia física, sobre a qual podia distender-se ilimitadamente, por vezes para esgotamento dos ouvintes. É notábel que um home que viaxou tán pouco, que mal se afastou de Königsberg durante os sete anos em que trabalhou como preceptor, gostasse tanto de geografia. Voluntariamente confinado à sua cidade natal, viaxaba com a imaxinaçón para outros lugares, que era capaz de representar com unha precisón surpreendente: aparentemente, só com observar um mapa podia visualizar os seus diversos traços físicos, como um músico que, tendo lido unha partitura, ouve dentro de si toda unha sinfonia. Como Hamlet, “poderia viver recluso nunha noz e achar-me rei do espaço infinito”. É verdade que Königsberg era, para a época, unha cidade populosa onde, como xá se dixo, o comércio fluvial internacional favorecia a presença de pessoas muito vividas e a universidade atraía xovens com interesses intelectuais, mas também é verdade que se tratába de unha cidade um pouco provinciana, situada na perifería de um grande império, dous séculos antes da invençón da Internet e das “autoestradas da comunicaçón”. Daí que Antonio Machado equipare, nos versos que encabeçam este capítulo biográfico, Kant a Tartarin, personaxem literária que empreende imaxináriamente grandes viáxens a outros continentes. Em qualquer caso, Kant gostaba das cousas assim: em “Antropoloxia de um Ponto de Vista Pragmático” escrebeu algo que, se circulasse na actualidade, aterrorizaría as companhias aéreas e daría aos ecoloxistas algunha esperança de que o exemplo fixesse escola.

JOAN SOLÉ

Deixar un comentario