Arquivos diarios: 05/10/2020

HUSSERL (A INTUIÇÓN E A ARQUIOPINIÓN)

E eis que chega a grande questón na qual desemboca o proxecto da filosofia (da fenomenoloxia). Como a abstençón tem o propósito de considerar o Todo, pode ir parar a unha de duas cousas: ou rapidamente fará um esboço possíbel do sentido do Todo (o que se chama habitualmente unha “concepçón do mundo”) ou procurará proceder devagar, metodicamente, retendo o disparo quase imprescindíbel da “concepçón xeral do mundo”. Neste segundo caso, xá se poderia falar da “Filosofia como unha Ciência do Rigor”, que é o título de um longo e sonante ensaio de Husserl, publicado em 1911. Mas falta ultrapassar um escolho perigosíssimo, tanto mais perigoso por esperar dentro do porto e non em alto mar, isto é, dentro do âmbito filosófico do que fica atrás da abstençón, e non ainda na actitude natural. Este obstáculo consiste em transferir sem mais para o terreno da filosofia os procedimentos metódicos das ciências pré-filosóficas ou “naturais”: o método da ciência exacta da natureza, o método -se realmente xá o tiverem conquistado- das ciências que hoxe chamamos humanas e sociais ou, entón, o método da matemática. O ideal filosófico chega ao ponto de pedir que nos abstenhamos também de usar estes métodos em filosofia. Usemos em princípio e profusamente a “intuiçón”, no sentido bastante preciso que tratei antes de definir. Non tomemos por certo que a filosofia, quando é ciência rigorosa e non mera rápida cosmovisón, em vez de se criar a partir dos “próprios fenómenos”, a partir das “próprias cousas”, o seu próprio estilo de rigor, tem que aceitar o rigor metódico das ciências que conservam como pano de fundo a “arquiopinión” da tese natural sobre o mundo como realidade indubitábel e que tudo abarca. A filosofia non pode axir como Robinson Crusoe, que chega a um lugar novo e o torna seu e habitábel, graças, sobretudo, aos bens que traz no seu barco naufragado. A ilha de Robinson é tán parte do mundo como qualquer outra ilha ou como os continentes e os mares. O resto ou “resíduo” da abstençón filosófica é, polo contrário, unha espécie de rexión de “mais aquém do mundo natural e de mais aquém da vida nele”( da vida que se interpreta a si mesma à luz do mundo natural e unicamente dele). Nesta rexión nova non nos servem os velhos recursos. Só conservamos dous elementos que procedem da vida e do mundo “naturais”: um sou eu mesmo, o indivíduo libre e afectado polo misterioso do Todo; o outro é a ideia da esixência “científica”, isto é, da responsabilidade absolucta pola verdade e para a verdade. Eu, que descobri a actitude filosófica, trago-lhe o ideal de precisón, de xustiça, de responsabilidade que aprendi de algunha maneira a trabalhar no mundo natural, nas ciências “naturais” e com os seres humanos que me foram talvez indiferentes no egoísmo da infância, mas a respeito dos quais cheguei a ser tán responsábel como pola própria verdade. E Husserl insiste em que estes valores, estas prácticas e estes sentimentos se conservam na passaxem para a filosofia, preparam-na, garantem-na, preservam-na.

MIGUEL GARCÍA-BARÓ