Arquivos diarios: 06/01/2019

ESPINOSA (OS PARADOXOS DA RAZÓN)

.

               A história do pensamento é pródiga em destinos inesperados.  O que um dia esteve no cume non tarda a cair no esquecimento, o que parecía destinado ao desaparecimento acaba por perdurar.  Erasmo de Roterdám foi, no século XVI, a personalidade mais destacada do humanismo europeu, um dos grandes impulsionadores da modernidade cultural, cuxa palabra era lei no continente, e hoxe é apenas leitura de especialistas.  Voltaire deu nome a um século,  o tán recente século XVIII, identificou-se, em grande parte, como o proxecto emancipador iluminista, foi eloxiado por Nietzsche na segunda metade do século XIX e teve um destino idêntico ao do seu predecessor humanista.  Em determinada altura, a cultura foi hegeliana, quando  se percebeu que a história da Humanidade tinha unha direcçón e um sentido precisos, percepçón essa que chegou a ser avassaladoramente hexemónica em vários períodos do século XIX e XX, e, hoxe em dia, quase ninguém quer recordar Hegel.  Todos os indicadores condenavam a doutrina de Espinosa a um obscuro canto das enciclopédias.  Este filósofo xudeu holandés do século XVII, condenado e excomungado, expoente máximo de unha corrente filosófica, o racionalismo, rexeitada de forma conclusiva por Immanuel Kant na Crítica da Razón Pura, pensador determinista que defendia que tudo o que acontece, acontece necessariamente e non podería acontecer de outra forma, que afirmou que Deus era a realidade e incluiu o ser humano nessa realidade necessária, non devería ser, de acordo com todos os prognósticos, um autor vivo, um contemporâneo nosso.  A sua escrita sóbria, austera, até mesmo árida, está à marxém da literatura.  A sua visón da existência humana é totalmente oposta à percepçón de liberdade como expontaneidade que se impôs no mundo actual.  Nada em Espinosa se adequa facilmente ao século XXI.  Mas, aínda assim, continua a ser um dos pensadores mais estimulantes, vigorantes e completos que algunha vez existiram.  Talvez nenhum pensador anterior (excepto Platón) e muitos poucos posteriores a ele até ao século XX continuem a despertar tal interesse em tantos leitores.  Três séculos e meio depois da sua morte, as suas ideias mantêm non só um enorme interesse intelectual, como a capacidade de axudarem as pessoas concretas a viverem na sua existência real: em particular, o seu estudo da psicoloxía humana é de unha modernidade e clarividência surpreendentes.  É por isso que continua a ser lido na era das tecnoloxías.

joan solé