UM UNIVERSO MATERIAL DETERMINADO CAUSALMENTE (XI)

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               Hobbes foi um materialista radical.  No seu universo, tudo é matéria, mais concretamente, matéria em movimento, incluindo a alma.  E quando Hobbes fala de matéria nao se refere, como Aristóteles, a um substracto primordial que necessita de forma: entende por matéria a única substância que existe (nem espírito, nem formas, nem essências).  A matéria, constitui todos os corpos, de tal modo que nada existe que nao seja corpóreo (e, além disso, exclusivamente corpóreo), e, portanto, que nao ocupe uma determinada extensao, incluindo Deus.  Este universo hobbesiano é, além disso, mecanicista e determinista.  Nele tudo está determinado causalmente.  Todas as coisas que o formam, isto é, corpos e movimentos, sao o resultado de uma concatenaçao de causas.  Mas Hobbes, mais uma vez ao contrário do fundador do Liceu (com a sua visao finalista ou teleológica da causalidade), nao considera que exista mais de uma única causa: a causa necessária.  Isso garante que, uma vez conhecida esta última, pode deducir-se o efeito que causará, e vice-versa, conhecido o efeito, estaremos em condiçoes de recuar á causa que o produz.  De qualquer modo, Hobbes é prudente ao calibrar o conhecimento possível e afirma que esse conhecimento é do tipo “se isto é, aquilo é; se isto foi, aquilo foi; se isto vai ser, aquilo será” (Leviata, VII).  Detenhamo-nos agora nas definiçoes, dado que abundan na obra de Hobbes e sao necessárias para compreender com maior profundidade a sua ontologia:  (…) Entender-se há melhor com um exemplo simples: se ficamos intrigados com o modo como se formou o cubo de gelo que fluctua no nosso copo, devemos descartar a maior parte dos seus accidentes (extensao, dureza, peso, movimento, densidade, etc.) até encontrar aquele que realmente participa da sua produçao (a temperatura). Assim, se aplicamos correctamente o método científico que vamos descrever, descobriremos que a temperatura inferior a zero graus foi a causa que transformou a água, o corpo em repouso, em gelo.  Foi o accidente que produziu as alteraçoes internas até criar o cubo de gelo e, como é uma causa necessária, nao é possível que a água a uma temperatura inferior a zero graus nao se transforme em gelo.  Fica assim patente que estamos perante uma cosmologia sujeita por completo á lei da causalidade, á excepçao de Deus (que, embora, seja um corpo, nao pode ser gerado por nenhuma causa anterior).  Todo o efeito tem uma causa necessária, de tal forma que tudo, do mais pequeno e insignificante dos homens, até ás suas mais complexas instituiçoes políticas, estao determinados por uma sucessao de causas que recuam a uma primeira que é precisamente esse Deus que, como vamos definir de segunda, vai ficar excluido da verdadeira ciência, a indagaçao filosófica.

ignacio iturralde blanco   

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