Arquivos diarios: 05/09/2016

OS FILÓSOFOS DO PERIPATO

4            os filósofos peripatéticos.

                   O meu tio era um filósofo peripatético de terceira ordem.   Com esta classificacion non quero rebaixar o seu mérito como  pensador, senon simplesmente indicar que era um filósofo ambulante desses que se paran a cada passo para expor as suas ideias.   Porque, segundo um trabalho inédito do meu pai putativo, a classe dos peripatéticos abarca tres ordems claramente diferênciadas:   1.   Os dinâmicos, como Aristóteles, que pensam e expresam-se em plena marcha.   2.   Os estáctico-dinâmicos, como Sócrates, que concíbem na inmobilidade, mas necessitam o movimento para expressar-se.   3.   Os dinâmico-estácticos, como D. Eremita, que lucubram em marcha, mas debem deter-se para descargar os seus  pensamentos.   Meu tio era, pois, um pensador – non um disertador . peripatético.   As ideias ocurriam-se-lhe caminhando;   mas iva-as soltando a chorrinhos nas pausas do caminho, como esses comboios que deixam merdadoria em cada estacion do traxecto.   Obeso e sudoroso, aquela tarde do fim do verán,, D. Eremita assemelhava-se,  verdadeiramente á máquina de um comboio de carga, de tal modo resolhava e acezaba.   De  volta a casa, as estacions foron numerosas, porque o meu tio concebía e dava á luz unha ideia cada dez passos.   (Poderia intentar-se unha classificacion deste ordem dos peripatéticos, segundo o tempo que, á marcha normal, necessitam para cada cogitacion.   Os pensadores de “tres passos”, isto é, os que cada dous metros, mais ou menos, se detenhem para explicar algo ó seu interlocutor, son unha calamidade nas cidades, porque obstruiem a circulacion nos passeios.   Abundam entre os artistas líricos e houbo um tempo em que floreciam na rua Paraná, á volta do Politeama.   Os pensadores de “tres passos” – non os há de menos – , pois cada passo corresponde, verossímilmente, a um dos termos do siloxismo –  os pensadores de “tres passos”, repito, apressentam um rasgo característico: para compensar a diferença do seu “tempo” con o do seu interlocutor, ponhense-lhe diante e agarram-lhe de um boton do chaleco.)   A minha tia dona Trânsito pertencia, em câmbio, á categoria dos pensadores dinâmicos.   Era realista, como Aristóteles.   (-Non me fales desse individuo – dixo-me certa vez que eu lhe citei a Platon -, que inventou a forma de facer perder o tempo ás muchachas.)   E circulava velozmente pela casa repartindo ordems e amonestacions, que surxiam como ásperos corolários de unha  continua disertacion sobre a conxénita estúpidez da metade do xénero humano.   Mas emquanto se detinha, era como um senador que cessa no seu mandato:   perdia a eloquência e as ideias abandonavam-na.

 ARTURO CANCELA